6. Técnicas de Leitura
Conforme Cavalcante Filho
(2011), há pelo menos quatro tipos de leitura: a) Leitura recreativa; b)
Leitura informativa; c) Leitura técnica; d) Leitura de estudo. Esses tipos são
assim conceituados:
A leitura
de higiene mental (ou recreativa) tem como objetivo trazer satisfação à
inteligência, a distração, o entretenimento, o lazer. É o caso da leitura de
romances, revistas em quadrinhos etc. A leitura técnica implica, muitas
vezes, a habilidade de ler e interpretar tabelas e gráficos. Por exemplo:
relatórios ou obras de cunho científico. Já a leitura de informação está
ligada às finalidades da cultura geral. Por fim, temos a leitura de estudo,
que visa à coleta de informações para determinado propósito, aquisição e
ampliação de conhecimentos.
O nosso objetivo
é o desenvolvimento as habilidades da leitura de estudo. Essa leitura exige
alguns passos a serem seguidos:
1º Preparar: Ter
em mãos dicionário técnico e material para anotações. É importante separar
fichas ou cadernos fáceis de manusear e identificar as anotações. Para
consultar futura enumere suas anotações e as identifique com citação
bibliográfica.
2º Ler
correntemente o texto, de forma rápida e procurando identificar de que se trata
o texto. Essa etapa é chamada de leitura de contato. Nesse momento deve se
questionar: De que assunto trata o texto? O tema envolve qual categoria da
filosofia (ontologia, ética etc)?
3º Ler parágrafo
por parágrafo, destacando a ideia principal de cada um. Esse é o momento da
leitura reflexiva, buscando identificar as intenções do autor.
4º Sintetizar as
ideias que aparecem no texto. Isso poderá ser feito em forma de um resumo.
Nessa etapa o leitor já tem um domínio do texto, sabe de suas ideias principais
e aplicabilidade delas.
5º Organizar as
notas para consulta futura ou para redigir alguma dissertação ou trabalho que
motivou a leitura do texto.
7.
O que vem a ser análise
do texto filosófico?
Algumas considerações sobre a etapa da análise. Analisar é
basicamente identificar o significado e a estrutura argumentativa do texto
(identificar o que disse e como disse).
Analisar é
explicar o sentido do texto, levando em consideração seu conteúdo e a relação
entre os argumentos. Primeiramente, precisamos fixar o sentido do texto através
da técnica do resumo, assim perceberemos a ideia principal do autor. Nesse
processo, é necessário distinguir o essencial do secundário e identificar as
razões que apoiam o essencial do texto. Há que apontar também a clara distinção
entre as partes do texto e seu papel na argumentação do conjunto. A precisão metodológica
é determinante para uma boa interpretação.
Betti sugere que o ponto de partida deve ser a determinação da estrutura
formal do texto. Os primeiros a serem
analisados devem ser os conceitos e o estilo. A compreensão depende da
estrutura da linguagem. O autor usa conceitos específicos em sua obra. Antes de
tudo, é necessário que o leitor aproprie-se dos conceitos do autor. Não deve se
ater somente às questões linguísticas, mas às condições históricas nas quais o
autor estava inserido. É preciso superar o sentido aparente captar o sentido
escondido na obra.
Análise textual consiste de duas
tarefas básicas: Analisar o conteúdo e a forma. Chamaremos a análise do
conteúdo de semântica e a da forma de sintática. O instrumento necessário para
o sucesso na análise semântica é bom dicionário técnico. Muitas vezes terá
também de recorrer a um dicionário da linguagem original do texto. Alguns
termos, por exemplo, em grego, têm sentido diferente da língua portuguesa e só
a tradução não será suficiente para que a compreensão. Os dicionários aliados a
uma leitura minuciosa e criteriosa ajudarão a uma análise bem sucedida.
Análise
sintática que deverá realizada simultaneamente é importante para evitar mal
entendidos. A compreensão do sentido de um texto depende em parte de observação
a relação entre as orações. Os conectivos são termos que enfatizam o rumo da
discussão. As conjunções determinam a natureza da argumentação. Observem os
conectivos que aparecem como também, mas, ou, senão. Eles amarram as ideias
estabelecendo relação de adversidade, complementação, de opção, de condição.
Portanto, deve se observar os sujeitos, os tempos verbais, os modos, as
conjunções etc.
Observemos
esses elementos em um trecho da famosa Alegoria da Caverna:
Sócrates:
Agora imagine a nossa natureza, segundo o grau de educação que ela
recebeu ou não, de acordo com o quadro que vou fazer. Imagine, pois, homens
que vivem em uma morada subterrânea em forma de caverna. A entrada se
abre para a luz em toda a largura da fachada. Os homens estão no
interior desde a infância, acorrentados pelas pernas e pelo pescoço, de
modo que não podem mudar de lugar nem voltar a cabeça para ver algo que
não esteja diante deles. A luz lhes vem de um fogo que queima por trás
deles, ao longe, no alto. Entre os prisioneiros e o fogo, há um caminho
que sobe. Imagine que esse caminho é cortado por um pequeno muro,
semelhante ao tapume que os exibidores de marionetes dispõem entre eles e o
público, acima do qual manobram as marionetes e apresentam o espetáculo.
(Platão, A República, Livro VII).
Quanto
ao gênero é uma alegoria, apresentada dentro de um diálogo. Platão elegeu como
gênero literário para os seus escritos o diálogo. Alguns termos são repetitivos
no texto como imagine, homens, caverna, caminho, fogo, acorrentados. A presença
insistente de certos termos determina o assunto. Logo, sabemos que se trata
"homens numa caverna". O texto inicia com uma palavra-chave
"imagine", um imperativo. Precisamos recorrer ao texto grego, pois
recriar em nossa imaginação aquilo que o autor sugere. Pergunta fundamental: De
que tipo de caverna fala o autor? O
termo utilizado no texto grego é σπήλαιον: Caverna, cavidade, lugar escondido. Como
podemos analisar o texto por categorias? Tempo: Agora (na imaginação). Agentes: Homens (acorrentados).
Lugar: Caverna. Relação: Acesso à exteriodade ao muro. Resumindo: O autor nos
sugere imaginar homens prisioneiros em uma caverna sem acesso ao espaço
exterior. Problema a ser levantado: Acontecem coisas lá fora e eles não têm
acesso, como podem de saber da totalidade que é a realidade? A tese defendida
notamos na primeira oração: A nossa natureza depende do grau de educação (παιδεία) que recebemos.
ATIVIDADE PARA
REVISÃO
NOME:
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1.
Quais
as características de um texto filosófico?
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2.
Os
gêneros textuais mais comuns em filosofia são:
a)
Poesia,
diálogo, tratado, romance
b)
Poesia,
romance, more geométrico
c)
Diálogo,
tratado, romance, meditação
d)
Diálogo,
manual, meditação, romance
3.
Relacione
a obra ao gênero textual:
a)
Além
do Bem e do Mal
b)
As
Confissões
c)
Ética
a Nicômaco
d)
A
República de Platão
(
) Diálogo
(
) Tratado
(
) Autobiografia
(
) Aforismo
4.
Cite quatro momentos metodológicos que
orientam o pesquisador no ato de interpretar.
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5. Qual
a importância da hermenêutica para a análise de textos?
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6. A
hermenêutica surge para atender a necessidade de interpretar textos:
a) Comerciais
b) Bíblicos
c) Filosóficos
d) Esotéricos
7. Cite
algumas dicas importantes para uma leitura de estudo.
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8. O
fundador da hermenêutica moderna, com finalidade de interpretar textos, em
geral, chamava-se:
a) Friedrich
Nietzsche
b) Friedrich
Schleiermacher
c) Hans
Georg Gadamer
d) Martim
Lutero
9. Faça
a distinção entre a perspectiva subjetivista e a objetivista da hermenêutica.
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10.
A respeito do texto Alegoria da Caverna,
responda as questões abaixo:
a)
“Mas quem fosse inteligente (…) lembrar-se-ia
de que as perturbações visuais são duplas, e por dupla causa, da passagem da
luz à sombra, e da sombra à luz. Se compreendesse que o mesmo se passa com a
alma, quando visse alguma perturbada e incapaz de ver, não riria sem razão, mas
reparava se ela não estaria antes ofuscada por falta de hábito, por vir de uma
vida mais luminosa, ou se, por vir de uma maior ignorância a uma luz mais
brilhante, não estaria deslumbrada por reflexos demasiadamente refulgentes
[brilhantes]; à primeira, deveria felicitar pelas suas condições e pelo seu
gênero de vida; da segunda, ter compaixão e, se quisesse troçar dela, seria
menos risível esta zombaria do que aquela que descia do mundo luminoso.” (A
República, 518 a-b, trad. Maria Helena da Rocha Pereira, Lisboa: Fundação
Calouste Gulbenkian, 1987)
Sobre este
trecho do livro VII de A República de
Platão, é correto afirmar.
I - A
condição de quem vive nas sombras é digna de compaixão.
II - O
filósofo, sendo aquele que passa da luz à sombra, não tem problemas em retornar
às sombras.
III - O trecho
estabelece uma relação entre o mundo visível e o inteligível, fundada em uma
comparação entre o olho e a alma.
IV - No
trecho, é afirmado que o conhecimento não necessita de educação, pois quem se
encontraria nas sombras facilmente se acostumaria à luz.
Marque a
alternativa que contém todas as afirmações corretas.
A) II e III
B) I e IV
C) I e III
D) III e IV
b)
No livro VII da República,
Platão apresenta o célebre mito (ou alegoria) da caverna. Pode-se afirmar que
com esse mito ele pretendia:
A) demonstrar que a democracia não é um bom
sistema de governo.
B) provar a imortalidade da alma humana.
C) mostrar que os cidadãos são geralmente
injustos com aqueles que querem ser justos.
D) esclarecer
algumas questões sobre a importância da educação dos filósofos, que viriam a
ser no futuro, os governantes da cidade justa.
c) Aponte
as características dos gêneros textuais “diálogo” e “tratado”:
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