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segunda-feira, 29 de junho de 2015

Análise de Textos Filosóficos - 03



6. Técnicas de Leitura

           Conforme Cavalcante Filho (2011), há pelo menos quatro tipos de leitura: a) Leitura recreativa; b) Leitura informativa; c) Leitura técnica; d) Leitura de estudo. Esses tipos são assim conceituados:

A leitura de higiene mental (ou recreativa) tem como objetivo trazer satisfação à inteligência, a distração, o entretenimento, o lazer. É o caso da leitura de romances, revistas em quadrinhos etc. A leitura técnica implica, muitas vezes, a habilidade de ler e interpretar tabelas e gráficos. Por exemplo: relatórios ou obras de cunho científico. Já a leitura de informação está ligada às finalidades da cultura geral. Por fim, temos a leitura de estudo, que visa à coleta de informações para determinado propósito, aquisição e ampliação de conhecimentos.

               O nosso objetivo é o desenvolvimento as habilidades da leitura de estudo. Essa leitura exige alguns passos a serem seguidos:
           1º Preparar: Ter em mãos dicionário técnico e material para anotações. É importante separar fichas ou cadernos fáceis de manusear e identificar as anotações. Para consultar futura enumere suas anotações e as identifique com citação bibliográfica.
            2º Ler correntemente o texto, de forma rápida e procurando identificar de que se trata o texto. Essa etapa é chamada de leitura de contato. Nesse momento deve se questionar: De que assunto trata o texto? O tema envolve qual categoria da filosofia (ontologia, ética etc)?
            3º Ler parágrafo por parágrafo, destacando a ideia principal de cada um. Esse é o momento da leitura reflexiva, buscando identificar as intenções do autor.
            4º Sintetizar as ideias que aparecem no texto. Isso poderá ser feito em forma de um resumo. Nessa etapa o leitor já tem um domínio do texto, sabe de suas ideias principais e aplicabilidade delas.
            5º Organizar as notas para consulta futura ou para redigir alguma dissertação ou trabalho que motivou a leitura do texto.

7.      O que vem a ser análise do texto filosófico?
Algumas considerações sobre a etapa da análise. Analisar é basicamente identificar o significado e a estrutura argumentativa do texto (identificar o que disse e como disse).
            Analisar é explicar o sentido do texto, levando em consideração seu conteúdo e a relação entre os argumentos. Primeiramente, precisamos fixar o sentido do texto através da técnica do resumo, assim perceberemos a ideia principal do autor. Nesse processo, é necessário distinguir o essencial do secundário e identificar as razões que apoiam o essencial do texto. Há que apontar também a clara distinção entre as partes do texto e seu papel na argumentação do conjunto.  A precisão metodológica é determinante para uma boa interpretação.  Betti sugere que o ponto de partida deve ser a determinação da estrutura formal do texto.  Os primeiros a serem analisados devem ser os conceitos e o estilo. A compreensão depende da estrutura da linguagem. O autor usa conceitos específicos em sua obra. Antes de tudo, é necessário que o leitor aproprie-se dos conceitos do autor. Não deve se ater somente às questões linguísticas, mas às condições históricas nas quais o autor estava inserido. É preciso superar o sentido aparente captar o sentido escondido na obra.
           Análise textual consiste de duas tarefas básicas: Analisar o conteúdo e a forma. Chamaremos a análise do conteúdo de semântica e a da forma de sintática. O instrumento necessário para o sucesso na análise semântica é bom dicionário técnico. Muitas vezes terá também de recorrer a um dicionário da linguagem original do texto. Alguns termos, por exemplo, em grego, têm sentido diferente da língua portuguesa e só a tradução não será suficiente para que a compreensão. Os dicionários aliados a uma leitura minuciosa e criteriosa ajudarão a uma análise bem sucedida.
           Análise sintática que deverá realizada simultaneamente é importante para evitar mal entendidos. A compreensão do sentido de um texto depende em parte de observação a relação entre as orações. Os conectivos são termos que enfatizam o rumo da discussão. As conjunções determinam a natureza da argumentação. Observem os conectivos que aparecem como também, mas, ou, senão. Eles amarram as ideias estabelecendo relação de adversidade, complementação, de opção, de condição. Portanto, deve se observar os sujeitos, os tempos verbais, os modos, as conjunções etc.
Observemos esses elementos em um trecho da famosa Alegoria da Caverna:
Sócrates: Agora imagine a nossa natureza, segundo o grau de educação que ela recebeu ou não, de acordo com o quadro que vou fazer. Imagine, pois, homens que vivem em uma morada subterrânea em forma de caverna. A entrada se abre para a luz em toda a largura da fachada. Os homens estão no interior desde a infância, acorrentados pelas pernas e pelo pescoço, de modo que não podem mudar de lugar nem voltar a cabeça para ver algo que não esteja diante deles. A luz lhes vem de um fogo que queima por trás deles, ao longe, no alto. Entre os prisioneiros e o fogo, há um caminho que sobe. Imagine que esse caminho é cortado por um pequeno muro, semelhante ao tapume que os exibidores de marionetes dispõem entre eles e o público, acima do qual manobram as marionetes e apresentam o espetáculo. (Platão, A República, Livro VII).

            Quanto ao gênero é uma alegoria, apresentada dentro de um diálogo. Platão elegeu como gênero literário para os seus escritos o diálogo. Alguns termos são repetitivos no texto como imagine, homens, caverna, caminho, fogo, acorrentados. A presença insistente de certos termos determina o assunto. Logo, sabemos que se trata "homens numa caverna". O texto inicia com uma palavra-chave "imagine", um imperativo. Precisamos recorrer ao texto grego, pois recriar em nossa imaginação aquilo que o autor sugere. Pergunta fundamental: De que tipo de caverna fala o autor?             O termo utilizado no texto grego é  σπήλαιον: Caverna, cavidade, lugar escondido. Como podemos analisar o texto por categorias? Tempo: Agora (na imaginação). Agentes: Homens (acorrentados). Lugar: Caverna. Relação: Acesso à exteriodade ao muro. Resumindo: O autor nos sugere imaginar homens prisioneiros em uma caverna sem acesso ao espaço exterior. Problema a ser levantado: Acontecem coisas lá fora e eles não têm acesso, como podem de saber da totalidade que é a realidade? A tese defendida notamos na primeira oração: A nossa natureza depende do grau de educação (παιδεία) que recebemos.


ATIVIDADE PARA REVISÃO


NOME: _______________________________________________________________________

1.    Quais as características de um texto filosófico?
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2.    Os gêneros textuais mais comuns em filosofia são:
a)    Poesia, diálogo, tratado, romance
b)   Poesia, romance, more geométrico
c)    Diálogo, tratado, romance, meditação
d)   Diálogo, manual, meditação, romance

3.    Relacione a obra ao gênero textual:

a)    Além do Bem e do Mal
b)   As Confissões
c)    Ética a Nicômaco
d)   A República de Platão
(   ) Diálogo
(   ) Tratado
(   ) Autobiografia
(   ) Aforismo


4.        Cite quatro momentos metodológicos que orientam o pesquisador no ato de interpretar.

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5.    Qual a importância da hermenêutica para a análise de textos?
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6.    A hermenêutica surge para atender a necessidade de interpretar textos:
a)    Comerciais
b)   Bíblicos
c)    Filosóficos
d)   Esotéricos

7.    Cite algumas dicas importantes para uma leitura de estudo.
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8.    O fundador da hermenêutica moderna, com finalidade de interpretar textos, em geral, chamava-se:
a)    Friedrich Nietzsche
b)   Friedrich Schleiermacher
c)    Hans Georg Gadamer
d)   Martim Lutero

9.    Faça a distinção entre a perspectiva subjetivista e a objetivista da hermenêutica.
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10.              A respeito do texto Alegoria da Caverna, responda as questões abaixo:
a)                  Mas quem fosse inteligente (…) lembrar-se-ia de que as perturbações visuais são duplas, e por dupla causa, da passagem da luz à sombra, e da sombra à luz. Se compreendesse que o mesmo se passa com a alma, quando visse alguma perturbada e incapaz de ver, não riria sem razão, mas reparava se ela não estaria antes ofuscada por falta de hábito, por vir de uma vida mais luminosa, ou se, por vir de uma maior ignorância a uma luz mais brilhante, não estaria deslumbrada por reflexos demasiadamente refulgentes [brilhantes]; à primeira, deveria felicitar pelas suas condições e pelo seu gênero de vida; da segunda, ter compaixão e, se quisesse troçar dela, seria menos risível esta zombaria do que aquela que descia do mundo luminoso.” (A República, 518 a-b, trad. Maria Helena da Rocha Pereira, Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, 1987)
Sobre este trecho do livro VII de A República de Platão, é correto afirmar.
I - A condição de quem vive nas sombras é digna de compaixão.
II - O filósofo, sendo aquele que passa da luz à sombra, não tem problemas em retornar às sombras.
III - O trecho estabelece uma relação entre o mundo visível e o inteligível, fundada em uma comparação entre o olho e a alma.
IV - No trecho, é afirmado que o conhecimento não necessita de educação, pois quem se encontraria nas sombras facilmente se acostumaria à luz.
Marque a alternativa que contém todas as afirmações corretas.
A) II e III
B) I e IV
C) I e III
D) III e IV

b) No livro VII da República, Platão apresenta o célebre mito (ou alegoria) da caverna. Pode-se afirmar que com esse mito ele pretendia:
A) demonstrar que a democracia não é um bom sistema de governo.
B) provar a imortalidade da alma humana.
C) mostrar que os cidadãos são geralmente injustos com aqueles que querem ser justos.
D)  esclarecer algumas questões sobre a importância da educação dos filósofos, que viriam a ser no futuro, os governantes da cidade justa.

c)    Aponte as características dos gêneros textuais “diálogo” e “tratado”:
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Bibliografia

ARANHA, M. L. A. & MARTINS, M. H. P. Filosofando: introdução à filosofia. 3ª ed. Rev. atual. São Paulo: Moderna, 2003.

CHAUÍ, Marilena. Introdução à história da Filosofia: Dos pré-socráticos a Aristóteles. São Paulo: Companhia das Letras, 2002.

MONDIN, B. Introdução à Filosofia: problemas, sistemas, autores, obras. 12ª ed. São Paulo: Paulus, 2001