ATIVIDADE
III – CONHECIMENTO NA IDADE MÉDIA
I – PROPOSTA DE LEITURA E ANÁLISE
Temática: Conhecimento
Textos: A Cidade de Deus, Livro XI, capítulo 26 / Agostinho, Sobre o Livre Arbítrio, Capítulo 3, 9.
a) Ler o texto abaixo e identificar como Agostinho fundamenta a certeza
contra a postura dos céticos:
“SE ENGANO,
EXISTO”
A
certeza de que eu existo, de que eu sei isto e de que estou feliz por isto
acontece independentemente de qualquer fantasia ou contradição imaginária.
Com
relação a essas verdades, não temo qualquer argumento apresentado pelos
acadêmicos.
Se
eles dizem “E se você estiver errado?”, respondo “Ainda que eu esteja errado,
ainda assim existo”. O ser que não existe não pode se enganar. Por isso, se me
engano, existo. Logo, se o fato de estar enganado prova que eu existo, como
posso estar errado quando penso que existo, se meu erro confirma minha
existência. Por isso, devo existir para que possa estar errado, logo, mesmo que
esteja errado, não se pode negar que não o estou na minha certeza de que eu
existo. Portanto, não estou errado ao saber que sei. Pois da mesma forma que
sei que existo, também sei que sei.
E
quando me alegro com esses dois fatos, posso acrescentar com igual certeza essa
alegria às coisas que eu sei. Pois não estou errado nessa alegria, porque não estou
enganado quanto às coisas que amo. Ainda que essas coisas sejam ilusórias,
ainda seria um fato eu amar as ilusões.
b) Comentar
sobre o papel do sentido interior:
“SENSUS INTERIOR”
Ag. Admito a existência dessa faculdade, seja ela qual
for, e sem hesitação denomino-a sentido interior. Pois, a não ser ultrapassando
esse mesmo sentido interior, o objeto transmitido pelos sentidos corporais
poderá chegar a ser objeto de ciência. Porque tudo o que nós sabemos, só
entendemos pela razão – aquilo que será considerado ciência. Ora, sabemos,
entre outras coisas, que não se pode ter a sensação das cores pela audição; nem
a sensação do som pela vista. E esse conhecimento racional nós não o temos
pelos olhos, nem pelos ouvidos, e tampouco por esse sentido interior, do qual
os animais não estão desprovidos. Por outro lado, não podemos crer que os
animais conheçam a impossibilidade de sentir, seja a luz pelos ouvidos, seja os
sons pelos olhos; visto que nós mesmos só o discernimos pela observação
racional e pelo pensamento. (Agostinho,
Sobre o Livre Arbítrio, Capítulo 3, 9).
c) Qual
é a condição do existir, viver e entender no processo do conhecimento?
Referência: (TAURISANO,
O De libero arbítrio de Agostinho de Hippona, 2007, p. 124).
SANTO AGOSTINHO
1. (UFU – 2009) - A filosofia grega
se expandiu para além das fronteiras do mundo helênico e influenciou outros
povos e culturas. Com o cristianismo não foi diferente e, aos poucos, a
filosofia foi absorvida. Conforme Chalita, um dos motivos dessa absorção foi:
[...] a necessidade de organizar os ensinamentos cristãos, de reunir os fatos e
conceitos do cristianismo sob a forma de uma doutrina e elaborar uma teologia
rigorosa. (CHALITA, G. Vivendo a
Filosofia. São Paulo: Ática, 2006, p. 94.)
Uma das
características da patrística é a busca da conciliação entre a fé e a
filosofia, e Agostinho de Hipona, ou Santo Agostinho (354 d.C. – 430 d.C.),
influenciado pelo neoplatonismo, tornou-se uma referência para a filosofia
cristã. Em relação ao desenvolvimento das ciências naturais, porém, o
pensamento de Agostinho não deu grande impulso uma vez que sua filosofia – tal
como a do mestre Platão – não adotava os fenômenos naturais como objeto de
reflexão.
Com base
nos textos acima e em seus conhecimentos sobre a obra de Agostinho de Hipona,
assinale a alternativa INCORRETA.
A)
Agostinho de Hipona criou a doutrina da iluminação divina baseado na teoria da
reminiscência de Platão, conciliando de modo original a fé cristã e o
pensamento filosófico.
B) A
observação, a experimentação e a aplicação dos princípios da geometria sobre os
fenômenos naturais foi uma das principais características da filosofia de Santo
Agostinho.
C)
Conforme Agostinho de Hipona, a filosofia grega é um instrumento útil para a fé
cristã.
D) As
verdades eternas e imutáveis, que têm sua sede em Deus, só podem ser alcançadas
pela iluminação divina.
2. (UFU –
2008) - A filosofia de Agostinho (354 – 430) é estreitamente devedora do
platonismo cristão milanês: foi nas traduções de Mário Vitorino que leu os
textos de Plotino e de Porfírio, cujo espiritualismo devia aproximá-lo do
cristianismo. Ouvindo sermões de Ambrósio, influenciados por Plotino, que Agostinho
venceu suas últimas resistências (de tornar-se cristão). PEPIN, Jean. Santo
Agostinho e a patrística ocidental. In: CHÂTELET, François (org.) A
Filosofiamedieval. Rio de Janeiro Zahar Editores: 1983, p. 77.
Apesar de
ter sido influenciado pela filosofia de Platão, por meio dos escritos de
Plotino, o pensamento de Agostinho apresenta muitas diferenças se comparado ao
pensamento de Platão.
Assinale
a alternativa que apresenta, corretamente, uma dessas diferenças.
A) Para
Agostinho, é possível ao ser humano obter o conhecimento verdadeiro, enquanto,
para
Platão, a
verdade a respeito do mundo é inacessível ao ser humano.
B) Para
Platão, a verdadeira realidade encontra-se no mundo das Ideias, enquanto para
Agostinho não existe nenhuma realidade além do mundo natural em que vivemos.
C) Para
Agostinho, a alma é imortal, enquanto para Platão a alma não é imortal, já que
é apenas a forma do corpo.
D) Para
Platão, o conhecimento é, na verdade, reminiscência, a alma reconhece as Ideias
que ela contemplou antes de nascer; Agostinho diz que o conhecimento é
resultado da Iluminação divina, a centelha de Deus que existe em cada um.
3. (UFU –
2010) - Segundo Agostinho de Hipona (354-430), “não aprendemos pelas palavras
que repercutem exteriormente, mas pela verdade que ensina interiormente”. Tal
pensamento ficou conhecido como a doutrina do mestre interior. Leia a história
em quadrinhos e o texto abaixo e responda o que se pede.
Para
Agostinho, a utilidade da linguagem não é pequena, certamente; mas nos
enganamos quanto ao seu verdadeiro papel. Damos a alguns homens o nome de
“mestres” porque eles falam e geralmente transcorre um tempo imperceptível ou
nulo entre o momento em que eles falam e o momento em que nós os compreendemos.
Aprendemos interiormente tão logo suas palavras tenham sido pronunciadas
exteriormente; por isso concluímos que esses mestres tenham nos instruído.
[...] Na realidade, os mestres apenas expõem, com a ajuda de palavras, as
disciplinas que eles professam ensinar; em seguida, aqueles que se nomeiam
“alunos” examinam em si mesmos se o que os professores dizem é verdade. O
mestre verdadeiro é a Verdade, e é como origem da concórdia entre os espíritos
que Deus recebe o título de “mestre interior”. Para tudo o que aprendemos temos
apenas um mestre: a verdade interior que reside na alma, ou seja, Cristo, virtude
imutável e sabedoria eterna de Deus. (GILSON, E. Introdução ao estudo de Santo Agostinho.
São Paulo: Paulus, 2008, p. 153-154.)
1) Sobre
a doutrina do mestre interior de Agostinho, responda:
A) Como
aprendemos a verdade?
B) Qual o
papel da linguagem no “aprendizado”?
2)
Relacione o mal-entendido entre Mafalda e Filipe (no quadrinho acima) com o
pensamento agostiniano sobre a relação mestre/aluno contemplou antes de nascer;
Agostinho diz que o conhecimento é resultado da Iluminação divina, a centelha
de Deus que existe em cada um.
II – PROPOSTA DE LEITURA E ANÁLISE
Temática: Conhecimento
Textos: Suma Teológica I, questão 84.
a)
Como
Tomás no texto abaixo define o papel do intelecto no processo do conhecimento?
SE
A ALMA CONHECE OS CORPOS PELO INTELECTO
O primeiro discute-se assim. ― Parece
que a alma não conhece os corpos pelo intelecto.
1. ― Pois, diz Dionísio que os corpos
não podem ser compreendidos pelo intelecto; porque só os sentidos podem
perceber o que é corpóreo. E diz também que a visão intelectual é só daquelas
coisas que estão pela sua essência na alma. Ora, essas não são corpos. Logo, a
alma pelo intelecto, não pode conhecer os corpos.
2. Demais. ― O sentido está para os
inteligíveis, como o intelecto para os sensíveis. Ora, a alma, pelo sentido, de
nenhum modo pode conhecer as coisas espirituais, que são inteligíveis. Logo, de
nenhum modo, pelo intelecto, pode conhecer os corpos, que são sensíveis.
3. Demais. ― O intelecto se refere às
coisas necessárias e que existem sempre do mesmo modo. Ora, todos os corpos são
móveis e não existem sempre do mesmo modo. Logo, pelo intelecto, a alma não
pode conhecer o corpo.
Mas, em contrário, a ciência está
no intelecto. Se, pois, este não conhece os corpos, resulta que não há nenhuma
ciência deles. E, então, desaparecerá a ciência natural, que é a do corpo
móvel.
Solução. ― Para evidenciar
esta questão, deve-se dizer que os primeiros filósofos que pesquisaram as
naturezas das coisas, pensavam que no mundo só existe corpo. E como viam que
todos os corpos são móveis (...) Heráclito disse que não é possível tocar duas
vezes a água de um rio que corre, como refere o Filósofo.
Platão, porém, que veio depois, para
poder salvar o conhecimento certo da verdade adquirida, por nós, por meio do
intelecto, introduziu, além desses seres corpóreos, outro gênero de entes
separado da matéria e do movimento, a que chamou espécies ou idéias. (...) De
modo que a alma não intelige esses seres corpóreos, mas sim, as espécies
separadas deles.
Ora, de duplo modo se mostra à
falsidade desta opinião. (...)
E a causa de Platão ter-se desviado da
verdade está em que, julgando que todo conhecimento se dá em virtude de certa
semelhança, pensava que a forma do conhecido está necessariamente no
conhecente, do modo pelo qual ela está no conhecido. Assim, considerou que a
forma da causa inteligida está no intelecto universal, imaterial e imovelmente;
coisa que ressalta da própria operação do intelecto, que intelige
universalmente e como por uma certa, necessidade; ora, o modo da ação é
dependente do modo da forma agente. E então, concluiu pela necessidade de as
coisas inteligidas subsistirem em si mesmas imaterial e imovelmente. Ora, isto
não é necessário. (...) Logo, deve-se
concluir que a alma, pelo intelecto, conhece os corpo por um conhecimento
imaterial, universal e necessário.
Donde a
resposta à primeira objeção. ― O passo de Agostinho deve se
entender daquelas coisas pelas quais o intelecto conhece, e não daquelas que
ele conhece. Ora, ele conhece os corpos, inteligindo, mas não por meio de
corpos nem de semelhanças materiais e corpóreas; mas por espécies imateriais e
inteligíveis que, por essência, podem estar na alma.
Resposta à
segunda.
― Como ensina Agostinho, não se deve dizer que, assim como sentido conhece só
as coisas corpóreas, assim o intelecto, só as espirituais; porque, então,
resultaria que Deus e os anjos não conheceriam os seres corpóreos. E a razão
desta diversidade é que a virtude inferior não se estende ao domínio da virtude
superior; mas a virtude superior opera, de modo mais excelente, o que pertence
à inferior.
Resposta à
terceira.
― Todo movimento supõe algo imóvel. Quando, pois, a transmutação é qualitativa,
a substância permanece imóvel; e quando se transmuda a forma substancial, a
matéria permanece imóvel. Ora, os modos de ser das coisas móveis são imóveis;
assim, embora Sócrates nem sempre esteja sentado, contudo é imovelmente verdade
que, quando está sentado, permanece num lugar. Por onde, nada impede ter uma
ciência imóvel das coisas móveis.
TOMÁS DE AQUINO
4. Para
Santo Tomás de Aquino, um dos princípios do conhecimento humano era o princípio
da causa eficiente.
Esse
princípio da causa eficiente exigia que o ser contingente:
a) não
exigisse causa alguma.
b) fosse
causado pelo intelecto humano.
c) fosse
causado pelo ser necessário.
d) fosse
causado por acidentes casuais
e) fosse
causado pelo nada.
5.
Segundo Santo Tomás, o conhecimento humano:
a) começa
pelos sentidos.
b) começa
a partir das idéias inatas.
c) se
explica, como em Platão, pela reminiscência.
d)
nenhuma das anteriores.
6. A teoria do conhecimento de Santo Tomás se baseia no intelectualismo
aristotélico, já que não se fundamenta numa limitação para os dados dos
sentidos a não ser para o sujeito que começa com os dados, mas há de seguir
posteriormente um processo sistemático e metódico. No que diz respeito ao
conhecimento sensitivo, Santo Tomás propõe uma explicação empirista do
conhecimento humano, porque:
a) mostra a instabilidade do mundo sensível e a
necessidade de se esquecer dos dados que oferece.
b) estima que todo conhecimento parte de uma
reflexão que se dá na experiência sensível.
c) considera que o conhecimento começa pela
sensação e continua pelo pensamento,
d) estabelece a prioridade do entendimento sobre os
sentidos sem desmerecer a importância destes.
GUILHERME DE OCKHAM
1. Qual o papel da experiência na
gnosiologia de Guilherme de Ockham?
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