PRINCIPAIS PROBLEMAS DA FILOSOFIA
DE AGOSTINHO
A ética de Agostinho surge de sua
preocupação em conciliar a bondade de Deus com o mal no mundo. A influência do maniqueísmo
na sua formação fez com que tivesse dificuldade de entender o dualismo bem/mal.
Um problema moral era colocado sobre um pressuposto ontológico. Antes veremos
outros temas importantes da filosofia agostiniana.
I - A SUPERIORIDADE DA RAZÃO
Uma
das influências que Agostinho recebeu da tradição filosófica foi o
neoplatonismo, mediante as obras de Plotino (As Enéadas). A primeira forma de
conhecimento que trata Agostinho é o autoconhecimento e é através da fé que o
homem desenvolve sua faculdade de conhecer. A fé se torna condição para o
conhecimento.
Nesse sentido, pode se estabelecer um
paralelo com Descartes. Agostinho afirma que podemos nos equivocar a cerca das
coisas que nos rodeiam, mas não sobre a nossa interioridade. Se eu sou capaz de
me enganar, eu existo. Nas palavras de Agostinho: “não te poderias enganar de
modo algum, se não existisses” (AGOSTINHO,). O fundamento da certeza está na
consciência do indivíduo.
Por serem três as realidades: o ser, o viver e o entender. É
verdade que a pedra existe e o animal vive. Contudo, ao que me parece a pedra
não vive. Nem o animal entende. Entretanto, estou certíssimo de que o ser que
entende possui também a existência e a vida. É porque não hesito em dizer: o
ser que possui essas três realidades é melhor do que aquele que não possui
senão uma ou duas delas. (De lib. arb. II, 3).
A teoria do conhecimento de Agostinho se
inicia com o anúncio de três realidades que sã também o ponto partido da
verdade fundamental: a existência..
Na obra “O Livre-Arbítrio”, Agostinho
afirma que a superioridade do homem sobre os outros animais se dar por causa da
razão. Ela constitui seu poder em superar a ferocidade dos animais. A razão é a
verdade mais elevada no homem: “O que denominamos saber não vem a ser nada mais
do que se perceber pela razão”.
Acima da razão está
a verdade que julga e não é julgada. Esse movimento de busca no interior
aproxima o homem cada vez mais de Deus. Portanto, Deus é o fundamento da
verdade. Essas verdades que se encontram no espírito humano não provêm da
experiência sensível. Os sentidos são
intérpretes da mente para conhecer as coisas exteriores. Ao gravar as imagens
das experiências sensíveis na memória é que as comparamos e as juntamos,
compreendendo a realidade. A memória funciona como “documentos das coisas
anteriormente percebidas”, nas palavras de Agostinho.
O domínio das ideias acontece com a
iluminação divina. As ideias são os arquétipos de toda a existência da mente de
Deus e a criação é a realização desses arquétipos (RODRÍGUEZ, 2015).
II - TEORIA DA
ILUMINAÇÃO
Em contraposição ao ceticismo, Agostinho
sustenta que através da dúvida o pensamento age e o homem se reconhece como ser
pensante e não pode negar a própria existência e nem duvidar da verdade, pois
de qualquer forma já se encontra em contato com a verdade. O homem é apenas um buscador da verdade, sua
mutabilidade e sua imperfeição o impede de conter a verdade em si. A verdade
não pode plenamente revelada ao homem no tempo. Deus é quem transmite para a
inteligência do homem. Na própria consciência, ele pode encontrar Deus.
A teoria da iluminação é a afirmação de
que o homem não possuindo por si mesmo a verdade, ele a recebe de Deus como uma
luz que ilumina a mente e a permite aprender.
A
Teoria da Iluminação Divina é apresentada por Santo Agostinho como ação direta
de Deus na mente humana, de modo que o homem possa chegar ao verdadeiro
conhecimento, sendo que é essa luz divina que possibilita ao homem encontrar
Deus e alcançar a felicidade (SOUSA, 2009).
Como Platão na Teoria da Reminiscência,
algumas ideias fundamentais não derivam da realidade sensível. A fonte das
ideias não é o mundo sensível, é para Agostinho o próprio Deus (SKUOLA, 2015).
III - LINGUAGEM E
VERDADE
No De
Magistro estabelece-se uma relação entre conhecimento e linguagem. Esta se
manifesta incapaz de expressar todo o saber. O discurso não ensina. E à medida que vamos
confrontando nossas opiniões com as opiniões alheias, e mudamos de opinião,
estamos consultando nossa verdade interior.
A linguagem por si mesma não é capaz de
transmitir conhecimento. Mas é indispensável ao ensino. O conhecer supõe algo
anterior à linguagem. As palavras são sinais exteriores do conhecimento, a
verdade é garantida pelo mestre interior. As condições do conhecimento não são
de ordem lingüística e sim metafísica. É o conhecimento que confere sentido à
linguagem.
Agostinho considera uma das funções da
linguagem ensinar. E ensinar é rememorar e fixar melhor nossos argumentos.
Porém, não é a linguagem que traz o conhecimento, é a verdade interior. A
iluminação provém do mestre interior (ALVES, 2012).
IV –
MAL E A MORAL
Para Agostinho de Hipona (354-430), o mal pode ser
compreendido em três sentidos: metafísico-ontológico; moral e físico. O mal
ontológico não existe porque as coisas criadas são boas, o que as limita é seu
grau de imperfeição. O mal físico é conseqüência do pecado original, são as
doenças, sofrimentos. Já o mal moral depende inteiramente das escolhas humanas.
Então, Agostinho
considera que todas as coisas criadas são boas. A corrupção é que as torna más.
Nada é mal por si. Isso equivale a dizer que o mal não é uma substância. Em
sentido absoluto o mal não existe.
Agostinho
durante certo tempo se confundiu inicialmente sobre este tema porque defendia a
Teoria das duas Substâncias (Maniqueísmo). Em As Confissões, ele comenta como
superou a posição do maniqueísmo: “Vi que éreis infinito, mas não daquele
modo”.
Cada coisa
na natureza se adapta ao seu lugar e ao seu tempo. Existe uma ordem e uma
hierarquia entre as criaturas. O mal acontece dentro da liberdade humana. O mal
é assim definido como uma perversão da vontade desviada da substância suprema.
A vontade se volta para coisas baixas.
Ao desviar
das coisas do alto o homem peca e comete o mal. Para que ele permaneça na
virtude é precisa deixar sua inteligência elevar o seu ser até Deus.
(Confissões VII, nº 12, p.118).
Agostinho de Hipona considera
a felicidade (beatitudo) como um desejo humano universal. E introduz no
debate ético a noção de livre-arbítrio. Ele contrapõe assim o intelectualismo
moral da Sócrates. A vontade ganha um papel específico na compreensão da ação
moral.
A liberdade humana é
própria da vontade e nela reside a fonte do pecado. A pessoa peca usando sua
liberdade para satisfazer sua má vontade. Agostinho divide os bens que
desejamos em inferiores e superiores. Estabelece uma hierarquia cujo bem maior
é Deus. Como há muitos bens a vontade pode tentar a escolher bens inferiores.
O homem não é
autônomo na sua vida moral, o que conduz seus atos é a vontade, mesmo sabendo
que ele pode querer o mal. A razão e a vontade são faculdades de um mesmo
espírito, porém, são independentes. A razão tem a faculdade de conhecer os
bens, mas o que escolhe é a vontade.
Neste ponto, entra a
noção de graça divina. É o auxílio que o homem recebe para se perseverar na
prática do bem. Já que sua vontade se enfraqueceu com o pecado original.
Agostinho elabora sua
teoria moral procurando explicar a origem do mal que está justamente no uso da
liberdade. Quando o homem se fecha no amor a si, convertendo-se para a criatura
e se afastando de Deus, abusa de sua liberdade realizando escolhas indevidas.
V –
ALGUMAS INFORMAÇÕES SOBRE O MANIQUEÍSMO
O maniqueísmo era uma doutrina segundo
a qual a força cósmica do mal é igual em poder à força cósmica do bem. O mal
estará sempre competindo e contrabalançando com o bem no mundo. O movimento foi
fundado por Maniqueu, morto crucificado em 277 na Pérsia. Segundo os
maniqueístas, a matéria é intrinsecamente má e o espírito bom.
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