Social Icons

terça-feira, 28 de junho de 2016

Agostinho: Principais Ideias



             PRINCIPAIS PROBLEMAS DA FILOSOFIA DE AGOSTINHO
        
         A ética de Agostinho surge de sua preocupação em conciliar a bondade de Deus com o mal no mundo. A influência do maniqueísmo na sua formação fez com que tivesse dificuldade de entender o dualismo bem/mal. Um problema moral era colocado sobre um pressuposto ontológico. Antes veremos outros temas importantes da filosofia agostiniana.
        
I - A SUPERIORIDADE DA RAZÃO

       Uma das influências que Agostinho recebeu da tradição filosófica foi o neoplatonismo, mediante as obras de Plotino (As Enéadas). A primeira forma de conhecimento que trata Agostinho é o autoconhecimento e é através da fé que o homem desenvolve sua faculdade de conhecer. A fé se torna condição para o conhecimento.
      Nesse sentido, pode se estabelecer um paralelo com Descartes. Agostinho afirma que podemos nos equivocar a cerca das coisas que nos rodeiam, mas não sobre a nossa interioridade. Se eu sou capaz de me enganar, eu existo. Nas palavras de Agostinho: “não te poderias enganar de modo algum, se não existisses” (AGOSTINHO,). O fundamento da certeza está na consciência do indivíduo.
Por serem três as realidades: o ser, o viver e o entender. É verdade que a pedra existe e o animal vive. Contudo, ao que me parece a pedra não vive. Nem o animal entende. Entretanto, estou certíssimo de que o ser que entende possui também a existência e a vida. É porque não hesito em dizer: o ser que possui essas três realidades é melhor do que aquele que não possui senão uma ou duas delas. (De lib. arb. II, 3).

      A teoria do conhecimento de Agostinho se inicia com o anúncio de três realidades que sã também o ponto partido da verdade fundamental: a existência..
      Na obra “O Livre-Arbítrio”, Agostinho afirma que a superioridade do homem sobre os outros animais se dar por causa da razão. Ela constitui seu poder em superar a ferocidade dos animais. A razão é a verdade mais elevada no homem: “O que denominamos saber não vem a ser nada mais do que se perceber pela razão”.        
      Acima da razão está a verdade que julga e não é julgada. Esse movimento de busca no interior aproxima o homem cada vez mais de Deus. Portanto, Deus é o fundamento da verdade. Essas verdades que se encontram no espírito humano não provêm da experiência sensível.  Os sentidos são intérpretes da mente para conhecer as coisas exteriores. Ao gravar as imagens das experiências sensíveis na memória é que as comparamos e as juntamos, compreendendo a realidade. A memória funciona como “documentos das coisas anteriormente percebidas”, nas palavras de Agostinho.
      O domínio das ideias acontece com a iluminação divina. As ideias são os arquétipos de toda a existência da mente de Deus e a criação é a realização desses arquétipos (RODRÍGUEZ, 2015).

II - TEORIA DA ILUMINAÇÃO

      Em contraposição ao ceticismo, Agostinho sustenta que através da dúvida o pensamento age e o homem se reconhece como ser pensante e não pode negar a própria existência e nem duvidar da verdade, pois de qualquer forma já se encontra em contato com a verdade.  O homem é apenas um buscador da verdade, sua mutabilidade e sua imperfeição o impede de conter a verdade em si. A verdade não pode plenamente revelada ao homem no tempo. Deus é quem transmite para a inteligência do homem. Na própria consciência, ele pode encontrar Deus.
      A teoria da iluminação é a afirmação de que o homem não possuindo por si mesmo a verdade, ele a recebe de Deus como uma luz que ilumina a mente e a permite aprender.

A Teoria da Iluminação Divina é apresentada por Santo Agostinho como ação direta de Deus na mente humana, de modo que o homem possa chegar ao verdadeiro conhecimento, sendo que é essa luz divina que possibilita ao homem encontrar Deus e alcançar a felicidade (SOUSA, 2009).


      Como Platão na Teoria da Reminiscência, algumas ideias fundamentais não derivam da realidade sensível. A fonte das ideias não é o mundo sensível, é para Agostinho o próprio Deus (SKUOLA, 2015).

III - LINGUAGEM E VERDADE

      No De Magistro estabelece-se uma relação entre conhecimento e linguagem. Esta se manifesta incapaz de expressar todo o saber.  O discurso não ensina. E à medida que vamos confrontando nossas opiniões com as opiniões alheias, e mudamos de opinião, estamos consultando nossa verdade interior.
      A linguagem por si mesma não é capaz de transmitir conhecimento. Mas é indispensável ao ensino. O conhecer supõe algo anterior à linguagem. As palavras são sinais exteriores do conhecimento, a verdade é garantida pelo mestre interior. As condições do conhecimento não são de ordem lingüística e sim metafísica. É o conhecimento que confere sentido à linguagem.
      Agostinho considera uma das funções da linguagem ensinar. E ensinar é rememorar e fixar melhor nossos argumentos. Porém, não é a linguagem que traz o conhecimento, é a verdade interior. A iluminação provém do mestre interior (ALVES, 2012).

IV – MAL E A MORAL

      Para Agostinho de Hipona (354-430), o mal pode ser compreendido em três sentidos: metafísico-ontológico; moral e físico. O mal ontológico não existe porque as coisas criadas são boas, o que as limita é seu grau de imperfeição. O mal físico é conseqüência do pecado original, são as doenças, sofrimentos. Já o mal moral depende inteiramente das escolhas humanas.
    Então, Agostinho considera que todas as coisas criadas são boas. A corrupção é que as torna más. Nada é mal por si. Isso equivale a dizer que o mal não é uma substância. Em sentido absoluto o mal não existe.
    Agostinho durante certo tempo se confundiu inicialmente sobre este tema porque defendia a Teoria das duas Substâncias (Maniqueísmo). Em As Confissões, ele comenta como superou a posição do maniqueísmo: “Vi que éreis infinito, mas não daquele modo”.
    Cada coisa na natureza se adapta ao seu lugar e ao seu tempo. Existe uma ordem e uma hierarquia entre as criaturas. O mal acontece dentro da liberdade humana. O mal é assim definido como uma perversão da vontade desviada da substância suprema. A vontade se volta para coisas baixas.
    Ao desviar das coisas do alto o homem peca e comete o mal. Para que ele permaneça na virtude é precisa deixar sua inteligência elevar o seu ser até Deus. (Confissões VII, nº 12, p.118).
Agostinho de Hipona considera a felicidade (beatitudo) como um desejo humano universal. E introduz no debate ético a noção de livre-arbítrio. Ele contrapõe assim o intelectualismo moral da Sócrates. A vontade ganha um papel específico na compreensão da ação moral.
A liberdade humana é própria da vontade e nela reside a fonte do pecado. A pessoa peca usando sua liberdade para satisfazer sua má vontade. Agostinho divide os bens que desejamos em inferiores e superiores. Estabelece uma hierarquia cujo bem maior é Deus. Como há muitos bens a vontade pode tentar a escolher bens inferiores.
O homem não é autônomo na sua vida moral, o que conduz seus atos é a vontade, mesmo sabendo que ele pode querer o mal. A razão e a vontade são faculdades de um mesmo espírito, porém, são independentes. A razão tem a faculdade de conhecer os bens, mas o que escolhe é a vontade.
Neste ponto, entra a noção de graça divina. É o auxílio que o homem recebe para se perseverar na prática do bem. Já que sua vontade se enfraqueceu com o pecado original.
Agostinho elabora sua teoria moral procurando explicar a origem do mal que está justamente no uso da liberdade. Quando o homem se fecha no amor a si, convertendo-se para a criatura e se afastando de Deus, abusa de sua liberdade realizando escolhas indevidas.

V – ALGUMAS INFORMAÇÕES SOBRE O MANIQUEÍSMO

         O maniqueísmo era uma doutrina segundo a qual a força cósmica do mal é igual em poder à força cósmica do bem. O mal estará sempre competindo e contrabalançando com o bem no mundo. O movimento foi fundado por Maniqueu, morto crucificado em 277 na Pérsia. Segundo os maniqueístas, a matéria é intrinsecamente má e o espírito bom.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

 

Bibliografia

ARANHA, M. L. A. & MARTINS, M. H. P. Filosofando: introdução à filosofia. 3ª ed. Rev. atual. São Paulo: Moderna, 2003.

CHAUÍ, Marilena. Introdução à história da Filosofia: Dos pré-socráticos a Aristóteles. São Paulo: Companhia das Letras, 2002.

MONDIN, B. Introdução à Filosofia: problemas, sistemas, autores, obras. 12ª ed. São Paulo: Paulus, 2001