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sábado, 22 de maio de 2021

Metodologia da Pesquisa em Filosofia III

 II - EXERCÍCIO DE LEITURA DE UM TEXTO FILOSÓFICO

Da leitura ao comentário de um texto filosófico


3.1. DIRETRIZES DA LEITURA ANALÍTICA:

 

Segundo o esquema proposto por Severino, podemos seguir as etapas abaixo na leitura analítica de um texto:

 

1.      Análise textual.

2.      Análise temática.

3.      Análise interpretativa.

4.      Problematização.

5.      Reelaboração reflexiva (comentário).

 

Para a assimilação do método de leitura analítica, propomos o estudo de três textos da filosofia antiga: Carta a Meneceu de Epicuro (nível simples), a Metafísica (nível complexo) e Apologia de Sócrates (nível intermediário). 

 

3.2. TEXTO A SER LIDO:

 

1ª Delimitação do texto – sempre quando vamos fazer uma leitura analítica de um texto devemos delimitar um trecho. Em seguida, devem-se enumerar os parágrafos para facilitar a localização das passagens.

2ª Elaboração da ficha de leitura – para compreensão da obra é importante ter as informações gerais do texto e do autor. Considera-se neste passo também o contexto.

 

A - CARTA A MENECEU:

 

Ficha de leitura:

Tema: Felicidade.

Área: Ética.

Bibliografia: SAMOS, Epicuro de. Carta a Meneceu. Tradução de Álvaro Lorencini e Enzo Del Carratore. São Paulo: UNESP, 2020.

Autor: Epicuro de Samos (341-270 antes de Cristo).

Gênero literário: carta instrutiva / epístola didática.

Escola: epicurismo.

  Epicuro envia suas saudações a Meneceu

 

1.      Que ninguém hesite em se dedicar à filosofia enquanto jovem, nem se canse de fazê-lo depois de velho, porque ninguém jamais é demasiado jovem ou demasiado velho para alcançar a saúde do espírito. Quem afirma que a hora de dedicar-se à filosofia ainda não chegou, ou que ela já passou, é como se dissesse que ainda não chegou ou que já passou a hora de ser feliz. Desse modo, a filosofia é útil tanto ao jovem quanto ao velho: para quem está envelhecendo sentir-se rejuvenescer através da grata recordação das coisas que já se foram, e para o jovem poder envelhecer sem sentir medo das coisas que estão por vir; é necessário, portanto, cuidar das coisas que trazem a felicidade, já que, estando presente, tudo temos, e, sem ela, tudo fazemos para alcançá-la. Pratica e cultiva então aqueles ensinamentos que sempre te transmiti, na certeza de que eles constituem os elementos fundamentais para uma vida feliz.

2.      Em primeiro lugar, considerando a divindade como um ente imortal e bem-aventurado, como sugere a percepção comum de divindade, não atribuas a ela nada que seja incompatível com a sua imortalidade, nem inadequado à sua bem-aventurança; pensa a respeito dela tudo que for capaz de conservar-lhe felicidade e imortalidade.

3.       Os deuses de fato existem e é evidente o conhecimento que temos deles; já a imagem que deles faz a maioria das pessoas, essa não existe: as pessoas não costumam preservar a noção que têm dos deuses, ímpio não é quem rejeita os em que a maioria crê, mas sim quem atribui aos deuses os falsos juízos dessa maioria. Com efeito, os juízos do povo a respeito dos deuses não se baseiam em noções inatas, mas em opiniões falsas. Daí a crença de que eles causam os maiores malefícios aos maus e os maiores benefícios aos bons.

4.      Irmanados pelas suas próprias virtudes, eles só aceitam a convivência com os seus semelhantes e consideram estranho tudo que seja diferente deles.

5.      Acostuma-te à ideia de que a morte para nós não é nada, visto que todo bem e todo mal residem nas sensações, e a morte é justamente a privação das sensações. A consciência clara de que a morte não significa nada para nós proporciona a fruição da vida efémera, sem querer acrescentar-lhe tempo infinito e eliminando o desejo de imortalidade.

6.      Não existe nada de terrível na vida para quem está perfeitamente convencido de que não há nada de terrível em deixar de viver. É tolo portanto quem diz ter medo da morte, não porque a chegada desta lhe trará sofrimento, mas porque o aflige a própria espera: aquilo que não nos perturba quando presente não deveria afligir-nos enquanto está sendo esperado.

7.      Então, o mais terrível de todos os males, a morte, não significa nada para nós, justamente porque, quando estamos vivos, é a morte que não está presente; ao contrário, quando a morte está presente, nós é que não estamos. A morte, portanto, não é nada, nem para os vivos, nem para os mortos, já que para ela não existe, ao passo que estes não estão mais aqui. E, no entanto, a maioria das pessoas ora foge da morte como se fosse o maior dos males, ora deseja como descanso dos males da vida.

8.      O sábio, porém, nem desdenha viver, nem teme deixar de viver; para ele, viver não é um fardo e não-viver não é um mal.

 

3º passo - Depois de uma leitura panorâmica, devemos identificar os conceitos, palavras-chave, autores e teorias. Podemos assinalá-los no texto e anotar numa folha de rascunho. Os autores e conceitos que são citados, mas, não são apresentados ou devidamente explicados devem ser esclarecidos através da consulta de dicionários e manuais.

 

Epicuro envia suas saudações a Meneceu

 

9.      Que ninguém hesite em se dedicar à filosofia enquanto jovem, nem se canse de fazê-lo depois de velho, porque ninguém jamais é demasiado jovem ou demasiado velho para alcançar a saúde do espírito. Quem afirma que a hora de dedicar-se à filosofia ainda não chegou, ou que ela já passou, é como se dissesse que ainda não chegou ou que já passou a hora de ser feliz. Desse modo, a filosofia é útil tanto ao jovem quanto ao velho: para quem está envelhecendo sentir-se rejuvenescer através da grata recordação das coisas que já se foram, e para o jovem poder envelhecer sem sentir medo das coisas que estão por vir; é necessário, portanto, cuidar das coisas que trazem a felicidade, já que, estando presente, tudo temos, e, sem ela, tudo fazemos para alcançá-la. Pratica e cultiva então aqueles ensinamentos que sempre te transmiti, na certeza de que eles constituem os elementos fundamentais para uma vida feliz.

10.  Em primeiro lugar, considerando a divindade como um ente imortal e bem-aventurado, como sugere a percepção comum de divindade, não atribuas a ela nada que seja incompatível com a sua imortalidade, nem inadequado à sua bem-aventurança; pensa a respeito dela tudo que for capaz de conservar-lhe felicidade e imortalidade.

11.   Os deuses de fato existem e é evidente o conhecimento que temos deles; já a imagem que deles faz a maioria das pessoas, essa não existe: as pessoas não costumam preservar a noção que têm dos deuses, ímpio não é quem rejeita os em que a maioria crê, mas sim quem atribui aos deuses os falsos juízos dessa maioria. Com efeito, os juízos do povo a respeito dos deuses não se baseiam em noções inatas, mas em opiniões falsas. Daí a crença de que eles causam os maiores malefícios aos maus e os maiores benefícios aos bons.

12.  Irmanados pelas suas próprias virtudes, eles só aceitam a convivência com os seus semelhantes e consideram estranho tudo que seja diferente deles.

13.  Acostuma-te à ideia de que a morte para nós não é nada, visto que todo bem e todo mal residem nas sensações, e a morte é justamente a privação das sensações. A consciência clara de que a morte não significa nada para nós proporciona a fruição da vida efémera, sem querer acrescentar-lhe tempo infinito e eliminando o desejo de imortalidade.

14.  Não existe nada de terrível na vida para quem está perfeitamente convencido de que não há nada de terrível em deixar de viver. É tolo portanto quem diz ter medo da morte, não porque a chegada desta lhe trará sofrimento, mas porque o aflige a própria espera: aquilo que não nos perturba quando presente não deveria afligir-nos enquanto está sendo esperado.

15.  Então, o mais terrível de todos os males, a morte, não significa nada para nós, justamente porque, quando estamos vivos, é a morte que não está presente; ao contrário, quando a morte está presente, nós é que não estamos. A morte, portanto, não é nada, nem para os vivos, nem para os mortos, já que para ela não existe, ao passo que estes não estão mais aqui. E, no entanto, a maioria das pessoas ora foge da morte como se fosse o maior dos males, ora deseja como descanso dos males da vida.

16.  O sábio, porém, nem desdenha viver, nem teme deixar de viver; para ele, viver não é um fardo e não-viver não é um mal.

 

4º passo - Agora é o momento de esquematizar o texto para se ter uma noção geral da sua estrutura e temas gerais.

 

a)      Epicuro faz equivaler a atividade filosófica ao tempo de ser feliz. É justamente porque ele entendia que conhecimento ajuda a aprender a viver bem.

b)      Em seguida, ele cita duas condições que ameaçam os homens: os deuses e a morte.

c)      A respeito dos deuses, ele tem uma visão deísta. Os deuses felizes e importais e não se ocupam dos problemas humanos. Portanto, eles não nos fazem males.

d)     A morte é a privação das sensações. Não devemos temê-la. O sentimento de medo da espera da morte é pior do que o próprio fato de morrer.

e)      Conclusão: O sábio não teme viver e nem teme morrer.


3.3. COMENTÁRIO:

A função terapêutica da filosofia

 

Epicuro inicia sua carta a Meneceu discorrendo sobre a função da filosofia. Ela tem um propósito sapiencial e terapêutico em sua dimensão ética. Não existe restrição de idade para se dedicar à filosofia por se tratar de um conhecimento necessário para toda a vida. Em todas as idades, precisamos de sabedoria para viver bem e alcançar a felicidade.

Há dois procedimentos que Epicuro recomenda para viver bem cada idade. Quem está envelhecendo se consola através da grata recordação das coisas que viveu. A memória tem uma função consoladora na biografia do sábio. Ao jovem, ele pode aprender a não sentir medo das coisas futuras. A ocupação mais importante da vida do sábio deve ser com as coisas que se referem à felicidade e a filosofia trata disso.

Em seguida, Epicuro tenta dissipar dois medos que podem atormentar a vida e impedir a felicidade. Eles têm a ver com a vida além da natureza e além do tempo. O primeiro é o medo que os gregos tinham da punição dos deuses, do destino. Embora, injustamente, muitos antigos autores consideravam Epicuro ateu, isso não é verdade. Ele acreditava na existência dos deuses. Porém, faz uma crítica à visão popular sobre os deuses e se posiciona como um politeísta deísta. É uma visão quase única na antiguidade. Ele rejeita a ideia de providência e de interferência dos deuses no mundo. Eles são felizes, imortais e se bastam a si mesmos. Então, não fazem mal aos homens. Um ser plenamente feliz não tem motivação para causar danos aos outros. O conceito de deus de Epicuro é um além do bem e do mal. Os gregos antigos viviam atormentados porque tinham crenças falsas sobre a natureza dos deuses no entender de Epicuro.

Já que não há motivo para temer a deus, como enfrentamos a morte? Ela é o medo mais universal. O bem e o mal residem nas nossas sensações corporais. Se nós tememos sofrimentos, a morte é justamente a privação de todas as sensações. Então, ela não é um mal. Além disso, é um fenômeno que não podemos vivenciá-lo já que ocorre estando nós inconscientes. Morte e homem não se encontram.

A atitude do sábio diante da vida é esta: Ele não despreza a vida e se esforça para vivê-la bem, mas também não teme a morte. Aliás, Epicuro até censura o suicídio. A máxima conclusiva de Epicuro é “viver não é um fardo e não-viver não é um mal.”

 

A - Palavras-chave: filosofia, felicidade, temor aos deuses, medo da morte.

B - Problematização: A filosofia pode ter um efeito terapêutico sobre os grandes medos? Quais os argumentos favoráveis à função terapêutica da felicidade?

Metodologia da Pesquisa em Filosofia III

 

I - EXERCÍCIO DE LEITURA E FICHAMENTO

Da leitura ao comentário de um texto de filosofia

 

a)    Levantamento bibliográfico do assunto a ser pesquisado:

 

Assunto:

Concepção de alma nos filósofos pré-socráticos

Referência:

SOUZA, José Cavalcante de (Org.). Pré-Socráticos. Coleção Os Pensadores. São Paulo: Nova Cultural, 2000.

 

COLLI, Giorgio. La sabiduría griega II. Tales. Anaximandro. Anaxímenes. Madrid: Trotta, 2008.

 

COLLI, Giorgio. La sabiduría griega III. Heráclito. Madrid: Trotta, 2010.

 

b)   Leitura e anotações de citações:

 

Assunto:

Rastreamento do termo alma nos pré-socráticos

Referência:

SOUZA, José Cavalcante de (Org.). Pré-Socráticos. Coleção Os Pensadores. São Paulo: Nova Cultural, 2000.

Citações:

TALES DE MILETO - E afirmam alguns que ela (a alma) está misturada com o todo. É por isso que, talvez, também Tales pensou que todas as coisas estão cheias de deuses. Cf. Platão Leis, X, 899 B. Parece também que Tales, pelo que se conta, supôs que a alma é algo que se move, se é que disse que a pedra (ímã) tem alma, porque move o ferro (p. 52-53).

 

ANAXÍMENES - Como nossa alma, que é ar, soberanamente nos mantém unidos, assim também todo o cosmo sopro e ar o mantém (p. 68).

 

XENÓFANES DE COLOFÃO - Agora passarei de novo a outro assunto e indicarei o caminho. E uma vez, passando por um cãozinho que espancavam, apiedou-se, dizem, e falou o seguinte: Pára! Não batas mais! pois é a alma de um amigo, reconheci-a ao ouvir sua voz (p. 78).

 

HERÁCLITO DE ÉFESO - De alma é (um) logos que a si próprio se aumenta (p. 108).

 

HERÁCLITO DE ÉFESO - Eis, em linhas gerais, sua doutrina: tudo se compõe a partir do fogo e nele se resolve; tudo se origina segundo o destino e por direções contrárias se harmonizam os seres; tudo está cheio de almas e demônios (p. 91).

 

FILOLAU DE CROTONA - Mas testemunham também os antigos teólogos e adivinhos que por certas punições a alma está ligada ao corpo e, como num túmulo, nele está sepultada (p. 229).

 

DEMÓCRITO DE ABDERA - Anaxágoras, na realidade, não concorda plenamente com Demócrito, pois este simplesmente considera idênticas alma e mente (cf. 28 A 45); a verdade, portanto, é a aparência (p. 295).

 

ANAXÁGORAS DE CLAZÔMENAS - Isto nos diz Aristóteles. "Nous é para ele (Anaxágoras) a mesma coisa que a alma." Assim distinguimos a alma como o que se move a si mesmo, o imediatamente individual; mas, enquanto simples, o Nous é o universal (p. 248).

 

LEUCIPO DE MILETO - "A alma se constitui de átomos esféricos."176 Sabemos ainda que se ocupou com o estado de coisas da consciência, procurando explicar, entre outras coisas, a origem das sensações (p . 281).

 

DEMÓCRITO DE ABDERA - A alguns pareceu que a alma se identifica com o fogo, pois este é composto das partículas mais sutis e é o mais incorpóreo dos elementos e ainda, primitivamente, é movimentado e movimenta os outros elementos (p. 295).

 

DEMÓCRITO DE ABDERA - É natural que o corpo tenha esta antiga acusação contra a alma a respeito das paixões. E Demócrito, imputando à alma a causa da infelicidade, diz: Se o corpo instaurasse um processo contra ela pelas dores que padeceu e pelos maltratos que sofreu e se fosse eu o juiz da acusação, com prazer condenaria a alma (p. 317).

 

DEMÓCRITO DE ABDERA - A felicidade não mora em rebanhos nem em ouro; a alma é a moradia da divindade (p. 319).

 

Assunto:

Rastreamento do termo alma nos pré-socráticos

Referência:

COLLI, Giorgio. La sabiduría griega II. Tales. Anaximandro. Anaxímenes. Madrid: Trotta, 2008.

Citações:

FERÉCIDES DE SIRO - Por eso, creo yo que, aunque en tantos siglos [ha habido] otros, el primero en afirmar por escrito que el alma humana es inmortal fue Ferecides de Siros, [um personaje] ciertamente antiguo, pues vivió durante el reinado de uno de mi raza (p. 93).

 

TALES DE MILETO - Por lo que se nos ha transmitido, parece que el propio Tales suponía que el alma es una fuerza motriz, si en verdad dijo que la piedra imán tiene alma, puesto que mueve el hierro (p. 117).

 

TALES DE MILETO - Algunos dicen que [el alma] anda mezclada en el universo, por lo que quizá el propio Tales pensó que todo está lleno de dioses (p. 117).

 

TALES DE MILETO - Según algunos, entre ellos el poeta Querilo, también fue el primero en defender que las almas son inmortales, y el primero que descubrió el intervalo entre uno y otro solstício (p. 123).

 

TALES DE MILETO - Tales [dijo que] dios es la mente del mundo y que el universo tiene alma y, al mismo tiempo, está lleno de espíritus; y por la humedad constitutiva penetra una fuerza divina que lo pone en movimento (p. 145).

 

ANAXÍMENES - Igual que nuestra alma, que es aire, nos ciñe completamente, así también el viento y el aire envuelven todo el universo (p. 209).

 

 

 

1º ESQUEMA:

 

Tales de Mileto - a) alma se encontra misturada em todas as coisas;

a)      A alma funciona como uma força motriz;

b)      A alma é imortal;

c)      O universo tem alma;

d)     Deus é a mente do mundo;

Anaxímenes de Mileto:

a) alma tem a constituição do ar;

Ferécides de Siro:

 a) a alma é imortal;

Xenófanes de Colofão:

a) cria provavelmente na transmigração das almas;

Filolau de Crotona:

a) a alma está presa no corpo;

Heráclito de Éfeso:

a) a alma é o logos;

b) Tudo está repleto de almas;

c) A natureza da alma é ígnea;

Demócrito de Abdera:

a) a alma e a mente são a mesma coisa;

b) a alma é a morada da divindade;

c) A alma sofre pelas ações e decisões do corpo.

Anáxagoras de Clazômena - a) A mente é a mesma que alma.

Leucipo de Mileto - a) a alma é constituído de átomos esféricos.

 

 

2º COMENTÁRIO:

 

Concepção de alma nos filósofos pré-socráticos

 

    O conceito de alma nos pré-socráticos é variável.  Ferécides de Siro foi o primeiro filósofo a afirmar que a alma é imortal[1]. Tales de Mileto está entre esses primeiros e concebia a alma como uma força motriz, ele retira essa observação a partir do comportamento do ímã. Isso levou muitos a considerarem que a natureza estava povoada de almas (espíritos). Neste sentido, o próprio universo teria alma. O mesmo Tales concebia Deus como a mente do mundo.

     A respeito da constituição da alma havia divergência entre os pré-socráticos. Anaxímenes a considerava semelhante ao ar. Leucipo de Mileto pensava que sua constituição seria de átomos esféricos. Heráclito falava da evaporação e da natureza ígnea: “tudo se compõe a partir do fogo e nele se resolve”.[2] Mas, Heráclito vai mais adiante e associa a alma com a razão (o logos). Portanto, a alma não era somente uma força motriz do corpo, mas também sede do pensamento, da racionalidade. Heráclito compartilha da crença que tudo está repleto de almas.

     Demócrito de Abdera considerava alma e mente como a mesma coisa. Neste aspecto, ele concorda com Anáxagoras de Clazômena. A alma é a morada da divindade. Por ser a dimensão mais perfeita, acaba sofrendo com as consequências das ações do corpo. Filolau de Crotona pensa na mesma direção quando diz que a alma vive presa do corpo. A concepção negativa do corpo que o platonismo deixará na história tem suas primeiras considerações entre os pré-socráticos. Provavelmente, esta seria uma consideração corrente nas religiões gregas.

     A informação de que Xenófanes de Colofão acreditava na transmigração das almas corrobora com a ideia de que os primeiros filósofos, embora procurem empregar uma explicação racional da natureza, ainda são muito devedores das religiões populares. Muitas crenças podem ter sido aprendidas mesmo da classe sacerdotal grega.

 

3º BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR

 

     As fontes primárias da nossa pesquisa sobre alma foram os fragmentos dos pré-socráticos. Com a finalidade de ampliar e aprofundar o estudo, podemos recorrer a intérpretes/comentaristas que estudaram o assunto.

 

CASTRO, Fabiano S., LANDEIRA-FERNANDEZ, J. Alma, corpo e a antiga civilização grega: as primeiras observações do funcionamento cerebral e das atividades mentais. Psicol. Reflex. Crit. vol.24 no.4 Porto Alegre  2011.

 

REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. História da filosofia: Antiguidade e Idade Média. Volume I. São Paulo: Paulus, 1990.

 

VIEIRA, Celso de Oliveira. Razão, alma e sensação na antropologia de Heráclito. Dissertação de Mestrado. Universidade Federal de Minas Gerais, 2010.



[1] COLLI, Giorgio. La sabiduría griega II. Tales. Anaximandro. Anaxímenes. Madrid: Trotta, 2008, p. 93.

[2] SOUZA, José Cavalcante de (Org.). Pré-Socráticos. Coleção Os Pensadores. São Paulo: Nova Cultural, 2000, p. 91.

Metodologia da Pesquisa em Filosofia II

 TIPOS DE FICHAMENTOS: Classificação e exemplos

 

O fichamento ou “ficha de leitura” é o registro da leitura realizada sobre determinada temática. Ele permite identificar a obra e fazer citações para compor um texto. As fichas podem ser bibliográficas, de citações, de resumos, de esboço e de comentários.

 

1.  Ficha bibliográfica

 

Assunto:

Ética e eudaimonia no pensamento de Aristóteles.

Referência:

ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. Tradução de Antonio de Castro Caiera. São Paulo: Atlas, 2009.

 

SILVEIRA, Denis Coitinho. Os sentidos da justiça em Aristóteles. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2001.

 

2.  Ficha de citações

 

Assunto:

Política e direitos

Referência:

DWORKIN, R. Levando os Direitos a sério. São Paulo: Martins Fontes, 2002.

Citações:

“A política aquele tipo de padrão que estabelece um objetivo a ser alcançado, em geral uma melhoria em algum aspecto econômico, político ou social da comunidade” (p.35).

 

3.  Ficha de resumo

 

Assunto:

Dignidade humana

Referência:

DWORKIN, Ronald. Domínio da Vida. 2009.

Resumo:

Nesta obra, o filósofo lida com a questão da dignidade humana em temas polêmicos da bioética, tais como: aborto, eutanásia e liberdade individuais. Fazendo uso da concepção de santidade da vida, Dworkin apresenta que a dignidade pode tanto justificar a vida ou a morte. A metodologia utilizada pelo filósofo foi a pesquisa bibliográfica seguida do estudo de casos da jurisprudência norte americana.

 

4.  Ficha de esboço

 

Assunto:

Idealismo político

Referência:

MORE, Thomas. Utopia.

Esboço:

No livro I (onde More descreve a famosa ilha de Utopia), o autor descreve o cenário caótico de seu tempo e discute os problemas inerentes à Inglaterra do séc. XVI. Como pontos principais de críticas destacam se a desordem social, a desigual distribuição de riquezas, a fome, a injustiça nas penas dadas pelos tribunais, e o despotismo e ambição desmesurada dos monarcas. No fundo, trata-se de uma indignação moral contra o status quo. Prova disso é a crítica exacerbada contra o sistema de justiça, onde os pobres são compelidos por terrível necessidade a roubar e depois pagar por isso com a morte (cf. p. 26).

 

De forma resumida, podemos destacar três “funções” para o livro I...

No livro II...

p.22

 

5.  Ficha de comentário

 

Assunto:

Sociedade

Referência:

DWORKIN, Ronald. Uma questão de Princípios, capítulo: O caso Bakke.

Resumo:

Ao fazer a análise da realidade das ações afirmativas, como no caso Bakke, Dworkin argumenta que tais ações não devem ser vistas como mecanismo de compensação, mas como medidas de integração, cujo objetivo principal deve ser ajudar a dar fim à discriminação, possibilitando a participação de todos nos mais diversos setores da sociedade. Seu argumento é de integração étnico-racial, cujo objetivo seria ajudar a dar fim à discriminação, possibilitando a participação de todos nos mais diversos setores da sociedade...

 

Referência:

 

BARBOSA, Evandro; COSTA, Thaís Christina Alves. Metodologia e Prática de Pesquisa em Filosofia. Pelotas: NEPFIL, 2015.

 

Bibliografia

ARANHA, M. L. A. & MARTINS, M. H. P. Filosofando: introdução à filosofia. 3ª ed. Rev. atual. São Paulo: Moderna, 2003.

CHAUÍ, Marilena. Introdução à história da Filosofia: Dos pré-socráticos a Aristóteles. São Paulo: Companhia das Letras, 2002.

MONDIN, B. Introdução à Filosofia: problemas, sistemas, autores, obras. 12ª ed. São Paulo: Paulus, 2001