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sábado, 7 de maio de 2016

O tema Conhecimento na Summa Theologiae



PROBLEMA DO CONHECIMENTO NA QUESTÃO 84 DA SUMMA THEOLOGIAE

Crédito: www.theophilogue.com.
A – EXPOSIÇÃO DAS IDEIAS DO TEXTO DA QUESTÃO 84[1]
1. O conhecimento dos objetos pela mente
      Conhecimento dos corpos pelo intelecto: a) DIONÍSIO – O intelecto não pode conhecer os corpos. B) HERÁCLITO – o fluxo do real impede o conhecimento. C) PLATÃO: A alma não intelige as coisas sensíveis, só as ideias.
      A alma conhece os corpos por espécies imateriais e inteligíveis. Não há separação entre aquilo que o intelecto conhece e o que os sentidos conhecem. A virtude superior opera sobre a inferior. É possível ter uma ciência imóvel das coisas móveis.

2. A essência do conhecimento é oposta à da materialidade
      a. AGOSTINHO: A alma conhece os corpos pelas semelhanças. b. DIONÍSIO: As coisas inferiores estão nas superiores de modo mais eminente que em si mesmas. B. PLATÃO: As causas da formas conhecidas são imateriais. C. FISIÓLOGOS: As coisas conhecidas que são materiais deveriam estar materialmente no cognoscente. Todo o conhecimento seria imaterial.
      Conclui-se que a essência do conhecimento é oposta à da materialidade. Quanto mais imaterial tiver da forma conhecida o cognoscente mais perfeitamente vai conhecer. É próprio de Deus conter a essência imaterial de todas as coisas.
      Resposta 1ª: A alma dá algo de sua substância para formação das imagens corpóreas. 2ª Resposta: Para Aristóteles, a alma é potencialmente conhecedora de tudo. 3ª Resposta: A essência de Deus é a semelhança perfeita de tudo.

3.    O valor da experiência: Intellectus est sicut tabula in qua nihil est scriptum

         GREGÓRIO: O inteligir é comum a homens e a anjos. A alma tem em si as espécies das coisas naturais. E conhece as causas corpóreas pelas espécies inteligíveis.
         A alma cognoscitiva está em potência tanto para as semelhanças que são os princípios do inteligir e do sentir. A alma não possui espécies inatas, mas é potencialmente provida em relação à capacidade de conhecer em relação a todas as espécies.
         Não é verdade que a alma já sabe porque não seria possível que esquecesse tudo. Exemplo, o cego de nascença não conhece cores. Portanto, a alma não conhece as coisas corpóreas por espécies inatas. O intelecto humano é apenas potencial às espécies. Species significa “vista, aparência, aspecto”.

4. Crítica às ideias inatas de Platão

    A alma intelectiva enquanto intelige participa dos inteligíveis. As coisas inteligidas em ato são formas agentes sem matéria. As espécies inteligíveis são causadas pelos inteligíveis fora da alma. São por substâncias separadas que são causadas as espécies inteligíveis. Logo, as espécies inteligíveis procedem de substâncias separadas.
    PLATÃO: As formas das coisas sensíveis são subsistentes por si. Avicena concorda com Platão ao dizer que as espécies inteligíveis efluem de formas separadas; porém, não admite as ideias como inatas.
    Se fosse assim a alma não precisaria do corpo para inteligir. As espécies inteligíveis não efluem de formas separadas. O intelecto possível passa da potência ao ato o conhecer e o intelecto agente é a virtude da alma.

5. Conhecimento das ideias

    DIONÍSIO: A alma não conhece todas as coisas nas razões eternas. ESCRITURAS: As razões eternas são conhecidas pelas coisas materiais.
    Toda ciência deriva das ideias. Estas são as razões eternas existentes na mente divina (rationes aeternae). A alma intelectiva conhece todas as verdadeiras nas razões eternas.
    Platão defendia a teoria das ideias. Agostinho ensinou que as ideias existem na mente divina – imagem do sol. Porém, não é só por participação das razões eternas que temos ciência.

6. O princípio do conhecimento é o sentido

    AGOSTINHO: Não se pode derivar o conhecimento verdadeiro dos sentidos. O corpo não opera no espírito, é este que causa a imagem das coisas em si mesmo.
    São três opiniões sobre este tema. DEMÓCRITO: As imagens dos corpos entram em nossa alma. PLATÃO: O conhecimento independe de órgão corpóreo. AGOSTINHO: A alma usa os sentidos para perceber  as coisas.
    ARISTÓTELES: O sentir é um ato do corpo e da alma. O intelecto agente pela abstração torna os fantasmas inteligíveis. Phantasmata são “imagem, espectro, ser imaginário”.
    O conhecimento sensitivo não é a causa total do conhecimento intelectual.

7. A participação dos fantasmas

    A alma não intelige nada sem o fantasma (nihil sine phantasmate intelligit anima, quaestio 84, art. 7).  É impossível ao nosso intelecto inteligir sem se valer dos fantasmas. É necessário o ato da imaginação. Se alguém tiver algum órgão lesado estará impedido de inteligir. Os seres particulares são apreendidos pelos sentidos.
    Os seres incorpóreos são inteligido por comparação com os corpos sensíveis.

8. A privação dos sentidos

    O uso da razão fica impedido pela privação dos sentidos. Exemplo, o sonho com as coisas ilícitas. Seria impossível em juízo perfeito durante a privação dos sentidos. Os dados do conhecimento dependem dos sentidos.




[1]TOMÁS DE AQUINO. Suma Teológica. Disponível em: http://permanencia.org.br/drupal/node/2476. Acesso em 01. mai. 2016.

quinta-feira, 5 de maio de 2016

O conhecimento em Tomás de Aquino



1.1.      Teoria da Abstração
         Se em Agostinho sentimos os ecos do platonismo, em Tomás de Aquino sentiremos o aristotelismo. Até o século XI, era valorizado basicamente o pensamento de Platão. A obra de Aristóteles conhecida era Órganon, ainda não havia conhecimento sobre a Metafísica e a Física. Os escritos de Aristóteles foram introduzidos na Europa por intermédio dos árabes. Avicena e Averróis se destacaram como dois importantes intérpretes de Aristóteles no período.
O intelecto não pode conhecer o universal, apenas o singular através da experiência sensível. Para Tomás, o conhecimento se constitui “no processo abstrativo em que o intelecto agente fornece ao intelecto possível a espécie inteligível, de caráter geral ou universal, obtida a partir da espécie sensível produzida pelos sentidos e retida na imaginação” (Summa Theologiae).
A teoria sobre o conhecimento sustentada por Tomás de Aquino segue a perspectiva aristotélica. Na Summa Theologiae, o filósofo afirma que os sentidos propiciam o conhecimento. O intelecto faz juízo a partir da matéria oferecida por eles. “Deste modo, é necessário afirmar que nosso entendimento conhece as realidades materiais abstraindo-as das imagens” (Summa Theologiae, Questão 81, artigo 1).
A sede da ciência é o intelecto, porém, sem a concorrência dos sentidos não há intelecção sobre o mundo. Essa ciência trata do conhecimento do movimento e da matéria.
O intelecto se relaciona com os sentidos, voltando-se para as imagens formadas (fantasmas) por eles e abstraindo-as. A abstração não ocorre diretamente sobre as coisas, mas sobre a imagem delas. O objeto de conhecer das coisas é a quididade delas, ou seja, a essência delas. Todo conhecimento se dá por comparação das coisas sensíveis (BERGER, 2010).
Há duas faculdades cognoscitivas: O sentido e o entendimento angélico. Essa última diz respeito ao conhecimento puro. A intelecção é um ato da alma que é a forma do corpo.

Conhecimento em Agostinho de Hipona





1.1.      A superioridade da razão
       Uma das influências que Agostinho recebeu da tradição filosófica foi o neoplatonismo, mediante as obras de Plotino (As Enéadas). A primeira forma de conhecimento que trata Agostinho é o autoconhecimento e é através da fé que o homem desenvolve sua faculdade de conhecer. A fé se torna condição para o conhecimento.
      Nesse sentido, pode se estabelecer um paralelo com Descartes. Agostinho afirma que podemos nos equivocar a cerca das coisas que nos rodeiam, mas não sobre a nossa interioridade. Se eu sou capaz de me enganar, eu existo. Nas palavras de Agostinho: “não te poderias enganar de modo algum, se não existisses” (AGOSTINHO,). O fundamento da certeza está na consciência do indivíduo.
Por serem três as realidades: o ser, o viver e o entender. É verdade que a pedra existe e o animal vive. Contudo, ao que me parece a pedra não vive. Nem o animal entende. Entretanto, estou certíssimo de que o ser que entende possui também a existência e a vida. É porque não hesito em dizer: o ser que possui essas três realidades é melhor do que aquele que não possui senão uma ou duas delas. (De lib. arb. II, 3).

      A teoria do conhecimento de Agostinho se inicia com o anúncio de três realidades que sã também o ponto partido da verdade fundamental: a existência..
      Na obra “O Livre-Arbítrio”, Agostinho afirma que a superioridade do homem sobre os outros animais se dar por causa da razão. Ela constitui seu poder em superar a ferocidade dos animais. A razão é a verdade mais elevada no homem: “O que denominamos saber não vem a ser nada mais do que se perceber pela razão”.    
       Acima da razão está a verdade que julga e não é julgada. Esse movimento de busca no interior aproxima o homem cada vez mais de Deus. Portanto, Deus é o fundamento da verdade. Essas verdades que se encontram no espírito humano não provêm da experiência sensível.  Os sentidos são intérpretes da mente para conhecer as coisas exteriores. Ao gravar as imagens das experiências sensíveis na memória é que as comparamos e as juntamos, compreendendo a realidade. A memória funciona como “documentos das coisas anteriormente percebidas”, nas palavras de Agostinho.
      O domínio das ideias acontece com a iluminação divina. As ideias são os arquétipos de toda a existência da mente de Deus e a criação é a realização desses arquétipos (RODRÍGUEZ, 2015).

1.2.      Teoria da Iluminação
      Em contraposição ao ceticismo, Agostinho sustenta que através da dúvida o pensamento age e o homem se reconhece como ser pensante e não pode negar a própria existência e nem duvidar da verdade, pois de qualquer forma já se encontra em contato com a verdade.  O homem é apenas um buscador da verdade, sua mutabilidade e sua imperfeição o impede de conter a verdade em si. A verdade não pode plenamente revelada ao homem no tempo. Deus é quem transmite para a inteligência do homem. Na própria consciência, ele pode encontrar Deus.
      A teoria da iluminação é a afirmação de que o homem não possuindo por si mesmo a verdade, ele a recebe de Deus como uma luz que ilumina a mente e a permite aprender.

A Teoria da Iluminação Divina é apresentada por Santo Agostinho como ação direta de Deus na mente humana, de modo que o homem possa chegar ao verdadeiro conhecimento, sendo que é essa luz divina que possibilita ao homem encontrar Deus e alcançar a felicidade (SOUSA, 2009).


      Como Platão na Teoria da Reminiscência, algumas ideias fundamentais não derivam da realidade sensível. A fonte das ideias não é o mundo sensível, é para Agostinho o próprio Deus (SKUOLA, 2015).

1.3.      Linguagem e verdade
      No De Magistro estabelece-se uma relação entre conhecimento e linguagem. Esta se manifesta incapaz de expressar todo o saber.  O discurso não ensina. E à medida que vamos confrontando nossas opiniões com as opiniões alheias, e mudamos de opinião, estamos consultando nossa verdade interior.
      A linguagem por si mesma não é capaz de transmitir conhecimento. Mas é indispensável ao ensino. O conhecer supõe algo anterior à linguagem. As palavras são sinais exteriores do conhecimento, a verdade é garantida pelo mestre interior. As condições do conhecimento não são de ordem lingüística e sim metafísica. É o conhecimento que confere sentido à linguagem.
      Agostinho considera uma das funções da linguagem ensinar. E ensinar é rememorar e fixar melhor nossos argumentos. Porém, não é a linguagem que traz o conhecimento, é a verdade interior. A iluminação provém do mestre interior (ALVES, 2012).
 

Bibliografia

ARANHA, M. L. A. & MARTINS, M. H. P. Filosofando: introdução à filosofia. 3ª ed. Rev. atual. São Paulo: Moderna, 2003.

CHAUÍ, Marilena. Introdução à história da Filosofia: Dos pré-socráticos a Aristóteles. São Paulo: Companhia das Letras, 2002.

MONDIN, B. Introdução à Filosofia: problemas, sistemas, autores, obras. 12ª ed. São Paulo: Paulus, 2001