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terça-feira, 28 de junho de 2016

Tomás de Aquino: Principais ideias




UMA APROXIMAÇÃO DA FILOSOFIA DE TOMÁS DE AQUINO

José Aristides da Silva Gamito

         Tomás de Aquino (1225 – 1274) foi um frade dominicano italiano natural da região de Nápolis. Era filho de Landulfo de Aquino e Teodora. Era um teólogo da Idade Média e se situa dentro do período escolástico. Durante seus estudos na Universidade de Nápoles conheceu a filosofia de Aristóteles. Estudou com Santo Alberto Magno e foi professor na Universidade de Paris.
         Seu mérito se deve à síntese que ele realizou entre a filosofia de Aristóteles e a doutrina cristã. Suas obras mais importantes são a Summa Theologiae e a Summa contra Gentiles. Mais tarde seus escritos foram condenados em Paris e em Oxford.
         Na obra de Tomás de Aquino os temas de filosofia e de teologia estão postos juntos, tanto é que apesar do consenso em torno de seu papel como filósofo, Bertrand Russell e Armand Maurer não o consideraram como tal[1].

I - DEUS

         Deus segundo Tomás de Aquino é “o princípio e o fim de todas as coisas”. Ele é a causa eficiente das criaturas e simultaneamente a causa final. Todas elas tendem a Deus. Este contém a totalidade da perfeição das coisas encontradas nas criaturas. Portanto, é possível ter uma fé racional na existência de Deus. Esta existência pode ser demonstrada logicamente.
         Primeiramente, para se demonstrar a existência de Deus não parte da suposição de que argumentar que “Deus não existe” seja uma contradição. E que se pode encarar essa demonstração como se faz ao demonstrar existência das coisas na natureza. Deus não é um objeto físico e esse impede uma percepção natural de sua existência. Portanto, na vida o homem não pode ter um conhecimento direto de Deus.
         Então, nosso conhecimento de Deus começa a partir do mundo que conhecemos. Tomás sintetiza cinco maneiras de demonstrar a existência de Deus. Por influência de Aristóteles, a primeira prova trata de movimento no mundo. Tudo que se move é movido por alguma coisa (omne quod movetur ab alio movetur). São as chamadas cinco vias: 1ª Tudo que move é movido por outra coisa, mas aquilo que dá o ponto de partida a todos os motores é imóvel:

A primeira e mais manifesta é a procedente do movimento; pois, é certo e verificado pelos sentidos, que alguns seres são movidos neste mundo. Ora, todo o movido por outro o é. Porque nada é movido senão enquanto potencial, relativamente àquilo a que é movido, e um ser move enquanto em ato. Pois mover não é senão levar alguma coisa da potência ao ato; assim, o cálido atual, como o fogo, torna a madeira, cálido potencial, em cálido atual e dessa maneira, a move e altera. Ora, não é possível uma coisa estar em ato e
potência, no mesmo ponto de vista, mas só em pontos de vista diversos; pois, o cálido atual não pode ser simultaneamente cálido potencial, mas, é frio em potência. Logo, é impossível uma coisa ser motora e movida ou mover-se a si própria, no mesmo ponto de vista e do mesmo modo, pois, tudo o que é movido há-de sê-lo por outro. Se, portanto, o motor também se move, é necessário seja movido por outro, e este por outro. Ora, não se pode assim proceder até ao infinito, porque não haveria nenhum primeiro motor e, por conseqüência, outro qualquer; pois, os motores segundos não movem, senão movidos pelo primeiro, como não move o báculo sem ser movido pela mão. Logo, é necessário chegar a um primeiro motor, de nenhum outro movido, ao qual todos dão o nome de Deus. (Summa Theologiae, I, q. 2, a. 3).

                   2ª Todo efeito depende de uma causa, a primeira delas não é causada por nenhuma outra:

A segunda via procede da natureza da causa eficiente. Pois, descobrimos que há certa ordem das causas eficientes nos seres sensíveis; porém, não concebemos, nem é possível que uma coisa seja causa eficiente de si própria, pois seria anterior a si mesma; o que não pode ser. Mas, é impossível, nas causas eficientes, proceder-se até o infinito; pois, em todas as causas eficientes ordenadas, a primeira é causa da média e esta, da última, sejam as médias muitas ou uma só; e como, removida a causa, removido fica o efeito, se nas causas eficientes não houver primeira, não haverá média nem última. Procedendo-se ao infinito, não haverá primeira causa eficiente, nem efeito último, nem causas eficientes médias, o que evidentemente é falso. Logo, é necessário admitir uma causa eficiente primeira, à qual todos dão o nome de Deus (Ibid.).

         3ª Todos os seres são passageiros, mas para que o mundo se sustente o primeiro deles é absoluto:

A terceira via, procedente do possível e do necessário, é a seguinte — Vemos que certas coisas podem ser e não ser, podendo ser geradas e corrompidas. Ora, impossível é existirem sempre todos os seres de tal natureza, pois o que pode não ser, algum tempo não foi. Se, portanto, todas as coisas podem não ser, algum tempo nenhuma existia. Mas, se tal fosse verdade, ainda agora nada existiria pois, o que não é só pode começar a existir por uma coisa já existente; ora, nenhum ente existindo, é impossível que algum comece a existir, e portanto, nada existiria, o que, evidentemente, é falso. Logo, nem todos os seres são possíveis, mas é forçoso que algum dentre eles seja necessário. Ora, tudo o que é necessário ou tem de fora a causa de sua necessidade ou não a tem. Mas não é possível proceder ao infinito, nos seres necessários, que têm a causa da própria necessidade, como também o não é nas causas eficientes, como já se provou. Por onde, é forçoso admitir um ser por si necessário, não tendo de fora a causa da sua necessidade, antes, sendo a causa da necessidade dos outros; e a tal ser, todos chamam Deus (Ibid.).

         4ª Há graus de perfeição nos seres, mas há um que contém todos os graus:

A quarta via procede dos graus que se encontram nas coisas. — Assim, nelas se encontram em proporção maior e menor o bem, a verdade, a nobreza e outros atributos semelhantes. Ora, o mais e o menos se dizem de diversos atributos enquanto se aproximam de um máximo, diversamente; assim, o mais cálido é o que mais se aproxima do maximamente cálido. Há, portanto, algo verdadeiríssimo, ótimo e nobilíssimo e, por conseqüente, maximamente ser; pois, as coisas maximamente verdadeiras são maximamente seres, como diz o Filósofo1. Ora, o que é maximamente tal, em um gênero, é causa de tudo o que esse gênero compreende; assim o fogo, maximamente cálido, é causa de todos os cálidos, como no mesmo lugar se diz2. Logo, há um ser, causa do ser, e da bondade, e de qualquer perfeição em tudo quanto existe, e chama-se Deus (Ibid.).

 5ª O Universo é organizado, isso exige uma inteligência ordenadora:

A quinta procede do governo das coisas — Pois, vemos que algumas, como os corpos naturais, que carecem de conhecimento, operam em vista de um fim; o que se conclui de operarem sempre ou freqüentemente do mesmo modo, para conseguirem o que é ótimo; donde resulta que chegam ao fim, não pelo acaso, mas pela intenção. Mas, os seres sem conhecimento não tendem ao fim sem serem dirigidos por um ente conhecedor e inteligente, como a seta, pelo arqueiro. Logo, há um ser inteligente, pelo qual todas as coisas naturais se ordenam ao fim, e a que chamamos Deus (Ibid.).

         Segundo Tomás, Deus tem os seguintes atributos: Bom, perfeito, inteligente, poderoso e eterno. Porém, isso não pode pensado fora dele. Por exemplo, a bondade de Deus significa Deus mesmo. Deus, portanto, é seus atributos.  No capítulo XIV da Summa contra Gentiles encontramos o método empregado pelo filósofo para descrever os atributos de Deus:
 Para estudiar la substancia divina hemos de valernos principalmente del método de remoción, porque, sobrepasando por su inmensidad todas las formas de nuestro entendimiento, no podemos alcanzarla conociendo qué es. Sin embargo, podemos alcanzar alguna noticia conociendo ―qué no es, y tanto mayor será cuanto más niegue de ella nuestro entendimiento (...). (Summa contra  Gentiles, livro 1, cap. 14).
            Não podemos conhecer Deus por vias afirmativas, o que nos resta identifica suas diferenças negativas para distingui-lo de outros seres.
II - HOMEM

         O ser humano é um animal. Tomás diz na Summa Theologiae (I, q. 75, art. 4) “é manifesto que este não é só a alma, mas algo composto de alma e corpo”.  O homem é essencialmente material. Ele concebe a alma como o princípio primeiro da vida: “Para discutir a natureza da alma, é necessário pressupô-la como o primeiro princípio da vida dos seres vivos; assim, dizemos que os seres animados são vivos e as coisas inanimadas carecem de vida.” (Summa I, q. 75, art. 1).
         A alma racional é a perfeição e a potência intelectiva do homem. A alma possui três faculdades. A alma intelectiva possui as potências da razão e da vontade. A primeira ordena à verdade e a segunda ao bem. A alma sensitiva possui as potências: concupiscível que leva a conseguir os bens sensíveis e evitar os males sensíveis, e, irascível que conduz a alma a bens difíceis de conseguir e a males difíceis de evitar. E por fim, temos a alma vegetativa que é responsável pelas funções de crescimento e diminuição.

III - CONHECIMENTO

    A ciência de acordo com Tomás de Aquino está no intelecto, porém, se este não conhece os corpos não tem ciência sobre a natureza.  As características desta ciência dependem das operações sensitivas são elas o conhecimento das causas do movimento e da matéria.
    O filósofo rebate a teoria das ideias de Platão porque esta considera que o conhecimento depende de espécies inatas introduzidas na alma. Se fosse assim o cego de nascença teria conhecimento das cores, situação que não ocorre.
    A operação cognitiva depende da união entre corpo e alma.  Com base em Agostinho, o filósofo proporá dois modos de conhecer. O primeiro é reservado aos bem-aventurados que vêem tudo em Deus. O segundo é próprio da vida presente e depende das razões eternas. Neste caso, o conhecimento dependerá das operações sensitivas e da iluminação intelectual que garante a participação nas razões eternas.
         A operação intelectual é causada pelos sentidos porque estes oferecem a matéria do conhecimento. O intelecto se serve dos phantasmata para inteligir. Estes phantasmata são causados pelos sentidos que apreendem as coisas particularmente. Todo o conhecimento depende das coisas sensíveis por causa da união entre corpo e alma. “Se os sentidos ficarem bloqueados, o intelecto não tem como voltar-se a seu objeto próprio de conhecimento, o que impossibilita a ocorrência de algum juízo perfeito de sua parte”[2].

IV - ÉTICA

         O pensamento ético de Tomás de Aquino foi influenciado pelo pensamento de Aristóteles. A difusão do pensamento do estagirita aconteceu na Europa no século XIII e Tomás acolheu essa influência tanto em sua epistemologia quanto em sua ética.
         O homem age livremente e os atos de sua vontade tendem à felicidade. A felicidade não pode ser encontrada nos bens criados, somente em Deus. O conhecimento do amor de Deus e a prática das virtudes são as ações que auxiliam na busca da felicidade. A moral depende de Tomás para ser compreendida precisamos definir ato voluntário e ato moral. Ato voluntário é um ato intrínseco com conhecimento de fim. Ato moral é uma ação voluntária sobre o bem ou o mal.
         A lei moral é um princípio racional que ordena os atos humanos. Tal ordenação se dá em função do fim último. As virtudes morais são os hábitos operativos bons. As virtudes se dividem em virtudes intelectuais (voltadas para a razão) e morais (voltadas a vontade e os apetites sensíveis). São virtudes morais o intelecto, a sindéresis e a sabedoria. São virtudes morais a prudência, justiça, fortaleza e temperança.[3] Os vícios são desordens do intelecto e da vontade.
         Segundo Wolfgang Kluxen é possível pensar uma filosofia moral a partir da Summa Theologiae.

V – BEM E LEI NATURAL

         Tomás de Aquino faz uma crítica à tese do dualismo moral. Assim como Agostinho ele considera que o mal não tem essência.  Nenhum ente é essencialmente mau.  Nenhuma coisa tende para o que lhe é contrário. “Tomás argumenta que a razão considera como boas aquelas coisas para as quais temos inclinação natural. Conservar a própria existência, procurar abrigo, ter uma vida social, procurar o sentido da vida etc., são inclinações fundamentais.”[4]
          A lei natural depreende dessas inclinações naturais. A medida do que é moral é a razão. Essa lei é constitutiva da natureza humana, mas não é inata. Existe no homem um hábito natural (sindérese) que o leva a compreender os princípios que guiam as boas ações. Tomás distingue três tipos de leis: Lex aeterna, Lex naturalis e Lex humana. Acima de todas está a lei divina.

A lex aertena é o plano racional de Deus, a ordem do universo inteiro, através  da qual a sabedoria dirige todas as coisas para o seu fim. É o plano da Providência conhecido unicamente de Deus e dos bem-aventurados. Entretanto, há uma parte dessa lei eterna da qual, como natureza racional, o homem é partícipe. E tal partecipatio legis aeternae in rationali creatura se chama lei natural (REALE, 2003, pp. 566-567).

         O núcleo dessa lei natural é o princípio “deve-se fazer o bem e evitar o mal”. É essa inclinação natural de conservação, de reprodução e de crescimento da espécie. Isso que é instintivo nos animais é racionalizado no homem. A lex humana é a lei feita pelo homem.  A finalidade desta lei é desencorajar os homens a praticarem o mal. Ela é promulgada pela comunidade visando o bem comum. A lei positiva que contradiz a lei natural é injusta.
         Justiça na concepção de Tomás é a disposição de espírito que leva a querer dar a cada um o que é seu por direito. Segundo o aquinate, temos de obedecer às leis, mas se elas forem tirânicas e contra a lei divina. As leis humanas são para fins humanos, a bem-aventurança depende da lei divina.


[1] MARENBON, John. Routledge History of Philosophy. Volume III. Medieval Philosophy. London: Routledge, 2004.
[2] BERGER, André de Deus. Teoria do Conhecimento em Tomás de Aquino: A necessidade da ação dos sentidos em Suma de Teologia iª, 84. Cadernos da Graduação, Campinas, nº 08, 2010, pp. 37-42.
[3] FAITANIN, Paulo. A antropologia tomista. A dimensão moral da pessoa. In: Disponível em: http://www.institutosapientia.com.br/site/index.php?option=com_content&view=article&id=1335:a-antropologia-tomista&catid=115:tomismo
[4] SOUSA, Luís Carlos Silva de. Lei natural e bem transcendental de Tomás de Aquino.  Revista de Filosofia. Fortaleza, CE. V. 7, nº 14,  Verão, 2010.

Agostinho: Principais Ideias



             PRINCIPAIS PROBLEMAS DA FILOSOFIA DE AGOSTINHO
        
         A ética de Agostinho surge de sua preocupação em conciliar a bondade de Deus com o mal no mundo. A influência do maniqueísmo na sua formação fez com que tivesse dificuldade de entender o dualismo bem/mal. Um problema moral era colocado sobre um pressuposto ontológico. Antes veremos outros temas importantes da filosofia agostiniana.
        
I - A SUPERIORIDADE DA RAZÃO

       Uma das influências que Agostinho recebeu da tradição filosófica foi o neoplatonismo, mediante as obras de Plotino (As Enéadas). A primeira forma de conhecimento que trata Agostinho é o autoconhecimento e é através da fé que o homem desenvolve sua faculdade de conhecer. A fé se torna condição para o conhecimento.
      Nesse sentido, pode se estabelecer um paralelo com Descartes. Agostinho afirma que podemos nos equivocar a cerca das coisas que nos rodeiam, mas não sobre a nossa interioridade. Se eu sou capaz de me enganar, eu existo. Nas palavras de Agostinho: “não te poderias enganar de modo algum, se não existisses” (AGOSTINHO,). O fundamento da certeza está na consciência do indivíduo.
Por serem três as realidades: o ser, o viver e o entender. É verdade que a pedra existe e o animal vive. Contudo, ao que me parece a pedra não vive. Nem o animal entende. Entretanto, estou certíssimo de que o ser que entende possui também a existência e a vida. É porque não hesito em dizer: o ser que possui essas três realidades é melhor do que aquele que não possui senão uma ou duas delas. (De lib. arb. II, 3).

      A teoria do conhecimento de Agostinho se inicia com o anúncio de três realidades que sã também o ponto partido da verdade fundamental: a existência..
      Na obra “O Livre-Arbítrio”, Agostinho afirma que a superioridade do homem sobre os outros animais se dar por causa da razão. Ela constitui seu poder em superar a ferocidade dos animais. A razão é a verdade mais elevada no homem: “O que denominamos saber não vem a ser nada mais do que se perceber pela razão”.        
      Acima da razão está a verdade que julga e não é julgada. Esse movimento de busca no interior aproxima o homem cada vez mais de Deus. Portanto, Deus é o fundamento da verdade. Essas verdades que se encontram no espírito humano não provêm da experiência sensível.  Os sentidos são intérpretes da mente para conhecer as coisas exteriores. Ao gravar as imagens das experiências sensíveis na memória é que as comparamos e as juntamos, compreendendo a realidade. A memória funciona como “documentos das coisas anteriormente percebidas”, nas palavras de Agostinho.
      O domínio das ideias acontece com a iluminação divina. As ideias são os arquétipos de toda a existência da mente de Deus e a criação é a realização desses arquétipos (RODRÍGUEZ, 2015).

II - TEORIA DA ILUMINAÇÃO

      Em contraposição ao ceticismo, Agostinho sustenta que através da dúvida o pensamento age e o homem se reconhece como ser pensante e não pode negar a própria existência e nem duvidar da verdade, pois de qualquer forma já se encontra em contato com a verdade.  O homem é apenas um buscador da verdade, sua mutabilidade e sua imperfeição o impede de conter a verdade em si. A verdade não pode plenamente revelada ao homem no tempo. Deus é quem transmite para a inteligência do homem. Na própria consciência, ele pode encontrar Deus.
      A teoria da iluminação é a afirmação de que o homem não possuindo por si mesmo a verdade, ele a recebe de Deus como uma luz que ilumina a mente e a permite aprender.

A Teoria da Iluminação Divina é apresentada por Santo Agostinho como ação direta de Deus na mente humana, de modo que o homem possa chegar ao verdadeiro conhecimento, sendo que é essa luz divina que possibilita ao homem encontrar Deus e alcançar a felicidade (SOUSA, 2009).


      Como Platão na Teoria da Reminiscência, algumas ideias fundamentais não derivam da realidade sensível. A fonte das ideias não é o mundo sensível, é para Agostinho o próprio Deus (SKUOLA, 2015).

III - LINGUAGEM E VERDADE

      No De Magistro estabelece-se uma relação entre conhecimento e linguagem. Esta se manifesta incapaz de expressar todo o saber.  O discurso não ensina. E à medida que vamos confrontando nossas opiniões com as opiniões alheias, e mudamos de opinião, estamos consultando nossa verdade interior.
      A linguagem por si mesma não é capaz de transmitir conhecimento. Mas é indispensável ao ensino. O conhecer supõe algo anterior à linguagem. As palavras são sinais exteriores do conhecimento, a verdade é garantida pelo mestre interior. As condições do conhecimento não são de ordem lingüística e sim metafísica. É o conhecimento que confere sentido à linguagem.
      Agostinho considera uma das funções da linguagem ensinar. E ensinar é rememorar e fixar melhor nossos argumentos. Porém, não é a linguagem que traz o conhecimento, é a verdade interior. A iluminação provém do mestre interior (ALVES, 2012).

IV – MAL E A MORAL

      Para Agostinho de Hipona (354-430), o mal pode ser compreendido em três sentidos: metafísico-ontológico; moral e físico. O mal ontológico não existe porque as coisas criadas são boas, o que as limita é seu grau de imperfeição. O mal físico é conseqüência do pecado original, são as doenças, sofrimentos. Já o mal moral depende inteiramente das escolhas humanas.
    Então, Agostinho considera que todas as coisas criadas são boas. A corrupção é que as torna más. Nada é mal por si. Isso equivale a dizer que o mal não é uma substância. Em sentido absoluto o mal não existe.
    Agostinho durante certo tempo se confundiu inicialmente sobre este tema porque defendia a Teoria das duas Substâncias (Maniqueísmo). Em As Confissões, ele comenta como superou a posição do maniqueísmo: “Vi que éreis infinito, mas não daquele modo”.
    Cada coisa na natureza se adapta ao seu lugar e ao seu tempo. Existe uma ordem e uma hierarquia entre as criaturas. O mal acontece dentro da liberdade humana. O mal é assim definido como uma perversão da vontade desviada da substância suprema. A vontade se volta para coisas baixas.
    Ao desviar das coisas do alto o homem peca e comete o mal. Para que ele permaneça na virtude é precisa deixar sua inteligência elevar o seu ser até Deus. (Confissões VII, nº 12, p.118).
Agostinho de Hipona considera a felicidade (beatitudo) como um desejo humano universal. E introduz no debate ético a noção de livre-arbítrio. Ele contrapõe assim o intelectualismo moral da Sócrates. A vontade ganha um papel específico na compreensão da ação moral.
A liberdade humana é própria da vontade e nela reside a fonte do pecado. A pessoa peca usando sua liberdade para satisfazer sua má vontade. Agostinho divide os bens que desejamos em inferiores e superiores. Estabelece uma hierarquia cujo bem maior é Deus. Como há muitos bens a vontade pode tentar a escolher bens inferiores.
O homem não é autônomo na sua vida moral, o que conduz seus atos é a vontade, mesmo sabendo que ele pode querer o mal. A razão e a vontade são faculdades de um mesmo espírito, porém, são independentes. A razão tem a faculdade de conhecer os bens, mas o que escolhe é a vontade.
Neste ponto, entra a noção de graça divina. É o auxílio que o homem recebe para se perseverar na prática do bem. Já que sua vontade se enfraqueceu com o pecado original.
Agostinho elabora sua teoria moral procurando explicar a origem do mal que está justamente no uso da liberdade. Quando o homem se fecha no amor a si, convertendo-se para a criatura e se afastando de Deus, abusa de sua liberdade realizando escolhas indevidas.

V – ALGUMAS INFORMAÇÕES SOBRE O MANIQUEÍSMO

         O maniqueísmo era uma doutrina segundo a qual a força cósmica do mal é igual em poder à força cósmica do bem. O mal estará sempre competindo e contrabalançando com o bem no mundo. O movimento foi fundado por Maniqueu, morto crucificado em 277 na Pérsia. Segundo os maniqueístas, a matéria é intrinsecamente má e o espírito bom.
 

Bibliografia

ARANHA, M. L. A. & MARTINS, M. H. P. Filosofando: introdução à filosofia. 3ª ed. Rev. atual. São Paulo: Moderna, 2003.

CHAUÍ, Marilena. Introdução à história da Filosofia: Dos pré-socráticos a Aristóteles. São Paulo: Companhia das Letras, 2002.

MONDIN, B. Introdução à Filosofia: problemas, sistemas, autores, obras. 12ª ed. São Paulo: Paulus, 2001