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sexta-feira, 27 de abril de 2018

Lógica Simbólica: Proposições Simples e Compostas

1.    Enunciados simples e enunciados complexos

Todos os enunciados podem ser divididos em dois tipos: simples ou compostos. Os enunciados compostos compreendem mais de um enunciado. Irving Copi dá o seguinte exemplo: “Os testes de armas nucleares na atmosfera serão interrompidos ou este planeta se tornará inabitável”. Este enunciado composto é formado por dois enunciados simples “Os testes de armas nucleares na atmosfera serão interrompidos” e “este planeta se tornará inabitável”.[1]
Há alguns modos de combinar estes enunciados.  O enunciado “Os homens são de Marte e as mulheres são de Vênus” é uma conjunção. Nos conjuntos os enunciados são unidos pela conjunção “e”. A conjunção é representada por ·. Exemplo: p·p.
Os enunciados têm valor de verdade, eles podem ser verdadeiros ou falsos. Assim há que se considerarem as proposições isoladas e as proposições como enunciação de um indivíduo. Vejamos os dois enunciados.  O primeiro: “Antônio crê que a lua é menor do que o sol”. É um valor de verdade. Porém, dizer que “a lua é menor do que o sol” é complemente diferente do valor de verdade do enunciado anterior. As pessoas crêem de modo diferente, com valores de verdade diferentes.
Uma conjunção é verdadeira se seus enunciados são igualmente verdadeiros. Porém, considerados em determina circunstância, tais valores mudarão. Os enunciados compostos função de verdade são aqueles considerados a partir da coerência interna dos enunciados. No caso da conjunção, podemos estabelecer os seguintes valores de verdade:

Possibilidades
Enunciado
Representação simbólica / função
Se caso p é verdadeiro e q é verdadeiro
p·q é verdadeiro
Se caso p é verdadeiro e q é falso
p·q é falso
Se caso p é falso e q é verdadeiro
p·q é falso
Se caso p é falso e q é falso
p·q é falso

A negação do conjunto “Não é o caso que a lua é menor do que o sol”. É um conjunto contraditório dos enunciados acima. O símbolo é o ~.  O enunciado é representado por ~p.  Assim se formos estabelecer uma tabela das possibilidades de verdade, temos de levar em conta que a negação de um enunciado verdadeiro é um enunciado falso e a negação de um enunciado falso é verdadeiro.

p
~p
V
F
F
V
           
Quando um enunciado composto tem seus componentes conectados por “ou” temos uma disjunção.  Esses são chamados de enunciados disjuntos. A conjunção “ou” tem um sentido inclusivo, quando as duas opções são passíveis de acontecer; e um sentido exclusivo, apenas uma opção pode ocorrer. Exemplos: a) sentido inclusivo: “Perder-se-á o direito de recompensas em caso de enfermidade ou desemprego”; b) sentido exclusivo: “Café ou leite” (dizeres de um menu). No exemplo a, quaisquer das duas situações que ocorrerem o interessado não receberá a recompensa. Aqui pelo menos um disjunto é verdadeiro. No exemplo b, o menu prevê apenas uma opção para o cliente, se tomar café não terá leite e vice-versa. Neste pelos menos um disjunto é verdadeiro, não ambos. O símbolo que representa a disjunção é o v (do latim vel “ou”).[2]
A negação de uma disjunção se expressa com frases do tipo “nem...nem”. Por exemplo: “Alice e Beatriz serão eleitas”. A sua negação equivale a “Nem Alice nem Beatriz serão eleitas”. A representação simbólica deste enunciado é ~(A v B). Pode ser representada também por  (~A)·(~B).  A expressão “a menos que” é representada disjuntivamente (M v P). Uma disjunção exclusiva pode se representada por (p v q) · ~(p·q).

2.    Enunciados condicionais

     Os enunciados condicionais são aqueles que são conectados por “se” e “então”.  Exemplo: “Se o ônibus atrasa perdemos nossa reunião”. O enunciado que fica entre o “se” e o “então” é chamado de antecedente (prótase). Aquele que segue o “então” é o consequente (apódose).  A verdade do antecedente implica a verdade do consequente.
     Qualquer condicional de antecedente verdadeiro e consequente falso é falso. Para que qualquer condicional seja se p então q seja verdadeiro, a negação da conjunção de seu antecedente com a negação de seu consequente, também deve ser verdadeira.
     Utiliza-se o símbolo para representar tipos enunciados semelhantes a estes. pq pode ser lido como “se p então q”, “p implica q”, “p só se q”.
           


[1] COPI, Irving. Lógica Simbólica.
[2] Para evitar essas ambigüidades da língua, a lógica simbólica utiliza parênteses, colchetes e chaves para a notação dos enunciados.

Lógica Simbólica: Introdução

LÓGICA SIMBÓLICA

Introdução[1]

Para ter uma compreensão completa do raciocínio dedutivo, precisamos de uma teoria geral de dedução. Uma teoria geral da dedução terá dois objetivos: (1) explicar as relações entre premissas e conclusões em argumentos dedutivos, e (2) fornecer técnicas para fazer distinções entre deduções válidas e inválidas.
Dois grandes conjuntos de teoria lógica buscaram alcançar esses fins. O primeiro é chamado de lógica clássica (ou aristotélica). O segundo, chamado moderno, simbólico, ou lógica matemática, [...].
Embora estes dois grandes conjuntos de teoria tenham objetivos semelhantes, eles procedem de maneiras muito diferentes. A lógica moderna não se baseia no sistema de silogismos. Ela não começa com a análise de proposições categóricas. Procura separar argumentos válidos de argumentos inválidos, mas o faz usando conceitos e técnicas muito diferentes. Portanto, devemos começar de novo, desenvolvendo um sistema lógico moderno que trata de alguns dos mesmos problemas tratados pela lógica tradicional - e o faz de forma ainda mais eficaz.
A lógica moderna começa primeiramente pela identificação dos conectivos lógicos fundamentais dos quais os argumentos dedutivos dependem. Usando estes conectivos, uma representação geral de tais argumentos é dada, e métodos para testar a validade dos argumentos são desenvolvidos.
Esta análise da dedução requer uma linguagem artificial simbólica. Numa linguagem natural - inglês ou qualquer outro - existem peculiaridades que fazem com que a análise lógica exata seja difícil: as palavras podem ser vagas ou equívocas, a construção de argumentos pode ser ambígua, as metáforas e os idiomas podem confundir ou enganar, os apelos emocionais podem distrair. Essas dificuldades podem ser superadas em grande parte com uma linguagem artificial em que as relações lógicas podem ser formuladas com precisão [...].
Os símbolos facilitam muito nosso pensamento sobre os argumentos. Eles nos permitem chegar ao coração de um argumento, exibindo sua natureza essencial e colocando de lado o que não é essencial. Além disso, com símbolos podemos realizar, quase mecanicamente, com o olho, algumas operações lógicas que de outra forma exigiriam um grande esforço. Pode parecer paradoxal, mas uma linguagem simbólica, portanto, nos ajuda a realizar algumas tarefas intelectuais sem ter que pensar muito. Os números indo-arábicos que usamos hoje (1, 2, 3...) ilustram as vantagens de uma linguagem simbólica melhorada. Eles substituíram o incômodo dos números romanos (I, II, III...), que são muito difíceis de manipular. Multiplicar 113 por 9 é fácil; multiplicar CXIII por IX não é tão fácil. Mesmo os romanos, alguns estudiosos afirmam, foram obrigados a encontrar formas de simbolizar números de modo mais eficiente.
Os lógicos clássicos entenderam o enorme valor dos símbolos na análise. Aristóteles usou símbolos como variáveis ​​em suas próprias análises e o sistema refinado, a silogística aristotélica usa símbolos de maneiras muito sofisticadas.
No entanto, muitos progressos reais foram feitos, principalmente durante o século XX, na elaboração e utilização de símbolos lógicos de forma mais eficaz.
O simbolismo moderno com que a dedução é analisada difere muito do clássico. As relações das classes de coisas não são fundamentais para os lógicos modernos como eram para Aristóteles e seus seguidores. Em vez disso, os lógicos parecem se voltar agora para a estrutura interna das proposições e argumentos, e para as conexões lógicas - muito pouco em número - que são críticos em todos os argumentos dedutivos. A lógica simbólica moderna não é, portanto, anotada, como a lógica aristotélica, pela necessidade de transformar argumentos dedutivos em forma silogística.
O sistema de lógica moderna que agora começamos a explorar é de certa forma menos elegante do que a silogística analítica, mas é mais poderosa. Existem formas de dedução argumento que as silogísticas não podem abordar adequadamente. Usando a  abordagem tomada pela lógica moderna, com sua linguagem simbólica mais versátil, nós podemos perseguir diretamente os objetivos da análise dedutiva e podemos ir mais profundamente. Os símbolos lógicos que vamos explorar permitem obter uma realização mais eficiente do objetivo central da lógica dedutiva: discriminação entre argumentos válidos e inválidos.



[1]  Tradução do texto das páginas 304 a 305 de: COPI, Irving. Modern Logic and Symbolic Language. In: COPI, Irving; COHEN, Carl; MCMAHON, Kenneth. Introduction to the Logic. Essex: Pearson, 2014.

 

Bibliografia

ARANHA, M. L. A. & MARTINS, M. H. P. Filosofando: introdução à filosofia. 3ª ed. Rev. atual. São Paulo: Moderna, 2003.

CHAUÍ, Marilena. Introdução à história da Filosofia: Dos pré-socráticos a Aristóteles. São Paulo: Companhia das Letras, 2002.

MONDIN, B. Introdução à Filosofia: problemas, sistemas, autores, obras. 12ª ed. São Paulo: Paulus, 2001