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segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

O Problema do Conhecimento


TEORIA DO CONHECIMENTO[1]

José Aristides da Silva Gamito[2]



1.  CONCEITUAÇÃO E TAREFA DA TEORIA DO CONHECIMENTO

     A Teoria do Conhecimento é uma investigação sobre a origem, extensão e limite do conhecimento. Outros nomes são tidos como equivalentes a esta disciplina como epistemologia, gnoseologia.  Segundo Carvalho, a epistemologia e a teoria do conhecimento têm finalidades diferentes:

Por estar diretamente ligada aos problemas da ciência e do conhecimento, às vezes a epistemologia foi confundida com a teoria do conhecimento. Entretanto devemos evitar este equívoco, pois, enquanto a teoria do conhecimento sempre fez parte da filosofia, ao longo de sua história, procurando tratar do problema do conhecimento humano como um todo, o termo epistemologia só foi utilizado, no final do século XIX, inicialmente por alguns membros do “Círculo de Viena”, que usaram o termo para designar os estudos especificamente voltados para problemas das ciências empíricas (CARVALHO, p. 14).

Porém, estas diferentes acepções não estão bem convencionadas. Abbagnano diz que as diferenças possuem mais razões linguísticas:

Em italiano, o termo mais usado é gnoseologia. Em alemão, o termo Gnoséologie, cunhado pelo wolffiano Baumgarten, teve pouco sucesso, ao passo que o termo Erkenntnistheorie, empregado pelo kantiano Reinhold (Versuch einer neuen Theorie des menschlichen Vorstellungsvermögens, 1789) foi comumente aceito. Em inglês, o termo Epistemology foi introduzido por J. F. Ferrier (Institutes of Metaphysics, 1854) e é o único empregado comumente; Gnoseology é bem raro. Em francês, emprega-se comumente Gnoséologie e, mais raramente, Épistemologie. Todos esses nomes têm o mesmo significado...(ABBAGNANO, p. 183).

Em síntese, a Teoria do conhecimento tem por objetivo buscar a origem, a natureza, o valor e os limites da faculdade de conhecer. (JAPIASSU).


2. HISTÓRIA DA TEORIA DO CONHECIMENTO

Na Antiguidade e na Idade Média não se pode falar de uma Teoria do Conhecimento como uma disciplina específica da filosofia. Platão e Aristóteles desenvolveram numerosas reflexões epistemológicas, mas a autonomia desta disciplina só aparece na modernidade.  John Locke é o primeiro a abordar de modo específico e sistemático sobre o problema na sua obra “Ensaio sobre o Entendimento Humano” (1690).
Em seguida, outros escreveram tratados específicos: Leibnitz (1765) escreveu “Novos Ensaios sobre o Entendimento Humano” refutando as ideias de Locke. Berkeley escreveu em 1710 o “Tratado dos Princípios do Conhecimento Humano”; Hume escreveu “Investigação sobre o Entendimento Humano”, em 1748.
Depois, Kant em sua “Crítica da Razão Pura” (1781) faz uma crítica do conhecimento, cujo método ele chama de ‘método transcendental’.

2.  PROBLEMAS DA TEORIA DO CONHECIMENTO

2.1. 1º PROBLEMA: O QUE SE PODE CONHECER?

  O primeiro problema do conhecimento que se coloca em discussão é a sua possibilidade.  Existem várias posturas em resposta a este problema:
            Dogmatismo: É a posição que admite uma verdade absoluta além do ser humano, além do espaço e do tempo, que pode ser acessada pelo intelecto. Para o dogmático é evidente que o sujeito pode apreender o objeto pelo ato cognitivo.
            Ceticismo: É a postura de quem afirma que não é possível saber se pode ou não conhecer um objeto/ente. Não há negação total, apenas dúvida sobre a possibilidade de conhecer. O sujeito não pode apreender o objeto. Estamos impossibilitados de formular juízos.
            Subjetivismo: Esta postura sustenta que há uma verdade, mas ela tem validade limitada, está limitada ao sujeito que conhece e a julga.
            Relativismo: É não aceitação de verdade absoluta, universalmente válida; toda verdade é relativa, apenas tem uma validade limitada.
  Os sofistas são os primeiros relativistas. O princípio de Protágoras (séc. V a. C.): “O homem é a medida de todas as coisas”.
            Pragmatismo: É uma modalidade positiva do ceticismo. Esta postura não admite a concordância entre o pensamento e o ser. E supera a negação intrínseca do ceticismo com um novo conceito de verdade. Verdadeiro é o que é útil. Os pragmatistas entendem que o homem é um ser prático.
       William James (1842-1910) é considerado o fundador do pragmatismo. Encontrou adeptos na Inglaterra e também na Alemanha. O voluntarismo de Nietzsche se coaduna com esta postura: “A verdade não é um valor teórico, mas apenas uma expressão para designar a utilidade, para designar aquela função de juízo que conserva a vida e serve a vontade do poder”.
       Criticismo: Esta postura assume uma posição intermediária entre dogmaticismo e ceticismo. Admite que é possível conhecer, que existe uma verdade. Porém, exige um exame de todas as afirmações da razão, nada pode aceito despreocupadamente.
       Kant é o fundador do criticismo, sua filosofia é um exame do dogmatismo e do ceticismo: “O método de filosofar consiste em investigar as fontes das próprias afirmações e objeções e as razões em que as mesmas assentam, método que dá a esperança de chegar à certeza”.

2.2. 2º PROBLEMA: QUAL É O OBJETO DO CONHECIMENTO?

       Segundo Platão as ideias que são o objeto do conhecimento, através da consciência delas é que possuímos a ciência verdadeira (epistemh). Do mundo físico só possuímos opinião (doxa).
       O objeto do conhecimento suscita a discussão sobre os universais. Desde a antiguidade que já se pergunta pelo objeto do conhecimento, mas é na Idade Média com a discussão dos universais é a discussão ganha sistematização. As propostas estão assim formuladas:
       Realismo: Os universais possuem existência no pensamento (transcendentalmente) ou nas coisas (imanentemente).
       Nominalismo: Tudo que existe são particulares, não admite a existência dos universais nem nas coisas e nem no pensamento. O universal é puro nome (flatus vocis).
       Conceitualismo: Os universais são apenas conteúdos da nossa mente, representações das coisas no intelecto.


2.3. 3º PROBLEMA: QUAL É A ORIGEM DO CONHECIMENTO?

       Ao longo da história da filosofia houve muitas posições sobre a fonte do conhecimento. Uns dizem que é a razão, outros que é a experiência. Vejamos quais são as principais fontes.
  Racionalismo: A fonte do conhecimento é o pensamento, a razão.  Conhecimentos verdadeiros devem ser lógicos e universalmente válidos.
  Empirismo: A fonte é a experiência, não há conteúdos a priori na mente do cognoscente. Todos os conceitos gerais e abstratos procedem da experiência.
  Intelectualismo: Admite a participação da razão e da experiência na produção do conhecimento. Há juízos logicamente necessários e universalmente válidos. O conhecimento é tirado da experiência, mas julgados com conteúdos da razão.
  Apriorismo: Admite também a participação da razão e da experiência na produção do conhecimento, mas a mente possui elementos a priori, independentes. A experiência preenche estas formas.

2.4. 4º PROBLEMA: COMO PODEMOS VERIFICAR O CONHECIMENTO?

       A Teoria do Conhecimento tem como tarefa também discutir critérios para verificar a validade de um conhecimento.
       Princípio cartesiano: Uma ideia é verdadeira, quando é clara, simples, distinta e indubitável.
       Princípio da coerência: As inferências devem ser inferidas a partir de postulados verdadeiros.
       Princípio da autoridade: Postula a existência de uma fonte infalível de conhecimento.
       Princípio pragmático: Um conhecimento é verdadeiro quando passa pela prova da experiência e auxilia na resolução de problemas.
       Princípio da conformidade: Um conhecimento é verdadeiro quando há adequação entre a proposição verbal e a realidade descrita.

3.     ANÁLISES DAS PRINCIPAIS TEORIAS DO CONHECIMENTO

3.1. DESCARTES E O RACIONALISMO

       Descartes construiu um sistema científico de bases ou princípios firmes e indubitáveis.  Sua ideia sobre o conhecimento é toda racionalista com base no modelo matemático. A ciência deveria de princípios metafísicos e a partir dos quais com rigor e ordem seriam deduzidos os conhecimentos restantes.
       O pensador tinha como objetivo a reforma do conhecimento humano por causa da desconfiança com razão presente em sua época.  Ele pretende, então, aplicar o modelo matemático a campos como da metafísica e da física.
       O saber tradicional para Descartes sustentava-se sobre bases frágeis e carecia de organização e sistematicidade. O princípio para garantir o conhecimento deve ser evidente, claro e distinto a ponto de ser indubitável.
       Descartes descreve um método para a busca da verdade: A) Não se pode aceitar aquilo que não for absolutamente indubitável. O verdadeiro é evidente e indubitável. B) A dúvida é purificadora porque ajuda a rejeitar os princípios falsos que podem induzir ao erro. C) O conhecimento seguro tem de passar rigorosamente pelo crivo da dúvida.

3.2. LOCKE E O EMPIRISMO

       John Locke rejeita a existência de ideias inatas. Ele dá o exemplo do comportamento das crianças que não demonstra já ter ideias.  Para o filósofo, o ser humano nasce com a mente vazia, em contato com a realidade, ele vai a preenchendo com os dados da experiência, estes são as ideias.  
       Experiência é tudo o que pode ser apreendido de modo imediato pela mente. E possui um sentido interno (reflexão) e outro externo (sensação).

3.3. KANT E O CRITICISMO

       Kant faz uma crítica do racionalismo e do empirismo. Empírico ou a posteriori (dados oferecidos pela experiência). Puro ou a priori (não depende de nenhuma experiência sensível e distingue-se do conhecimento empírico pela universalidade e necessidade.
      
       A experiência sensível por si só jamais produz juízos necessários e universais. Todas as vezes em que se está diante desse tipo tem-se um conhecimento puro ou a priori. Por exemplo na proposição “a linha reta é a distância mais curta entre dois pontos”. Nessa proposição nada se afirma a respeito de determinada linha reta, mas de qualquer linha reta (universalidade); por outro lado, não se declara que a linha reta é a mais curta em certas condições, mas sem quaisquer condições (necessidade).


3.4. NIETZSCHE E SUA TEORIA DO CONHECIMENTO

        “Não há fatos, há interpretações”. Nietzsche afirma uma radical contingência do conhecimento.  Ele critica a busca por conceitos universais, verdades. Os conceitos são criados historicamente. A finalidade do ato de conhecer é buscar respostas úteis à conservação da espécie.


  1. VERDADE

       A verdade é a concordância do pensamento consigo mesmo. Um juízo é verdadeiro quando construído segundo as leis e normas do pensamento. De acordo com essa concepção, a verdade significa algo puramente formal. Ela coincide com a correção lógica.
       A verdade do conhecimento só pode consistir, portanto, na produção de objetos em conformidade com as leis do pensamento, vale dizer, na concordância do pensamento com suas próprias leis (HESSEN).

  1. REFERÊNCIAS

MONDIN, B. Introdução à Filosofia: O problema gnosiológico. São Paulo: Paulinas, 1980.
CERRUTTI, Pedro. A caminho da verdade suprema. Rio de Janeiro: Universidade Católica, 1968.
HESSEN, JOHANNES. Teoria do Conhecimento. Trad. de João Vergílio G. Cuter. Martins Fontes: São Paulo, 2000.
MOSER, P.; MULDER, D.; TROUT, J. A teoria do conhecimento. São Paulo: Martins Fontes, 2004.



[1] Texto-base para as aulas de Teoria do Conhecimento no curso de Complementação de Estudos em Filosofia do Instituto de Ciências Humanas João Paulo II (IJOPA) / Faculdade Católica de Anápolis, Caratinga, 2013.
[2] Bacharel em filosofia pela Faculdade João Calvino (2010) e licenciado em filosofia pela Faculdade de Ciências da Bahia (2011), especialista em Docência do Ensino Básico e do Ensino Superior (2011), atual Secretário Municipal de Educação de Conceição de Ipanema (MG). E-mail: joaristides@gmail.com.

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Bibliografia

ARANHA, M. L. A. & MARTINS, M. H. P. Filosofando: introdução à filosofia. 3ª ed. Rev. atual. São Paulo: Moderna, 2003.

CHAUÍ, Marilena. Introdução à história da Filosofia: Dos pré-socráticos a Aristóteles. São Paulo: Companhia das Letras, 2002.

MONDIN, B. Introdução à Filosofia: problemas, sistemas, autores, obras. 12ª ed. São Paulo: Paulus, 2001