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sábado, 22 de maio de 2021

Metodologia da Pesquisa em Filosofia III

 II - EXERCÍCIO DE LEITURA DE UM TEXTO FILOSÓFICO

Da leitura ao comentário de um texto filosófico


3.1. DIRETRIZES DA LEITURA ANALÍTICA:

 

Segundo o esquema proposto por Severino, podemos seguir as etapas abaixo na leitura analítica de um texto:

 

1.      Análise textual.

2.      Análise temática.

3.      Análise interpretativa.

4.      Problematização.

5.      Reelaboração reflexiva (comentário).

 

Para a assimilação do método de leitura analítica, propomos o estudo de três textos da filosofia antiga: Carta a Meneceu de Epicuro (nível simples), a Metafísica (nível complexo) e Apologia de Sócrates (nível intermediário). 

 

3.2. TEXTO A SER LIDO:

 

1ª Delimitação do texto – sempre quando vamos fazer uma leitura analítica de um texto devemos delimitar um trecho. Em seguida, devem-se enumerar os parágrafos para facilitar a localização das passagens.

2ª Elaboração da ficha de leitura – para compreensão da obra é importante ter as informações gerais do texto e do autor. Considera-se neste passo também o contexto.

 

A - CARTA A MENECEU:

 

Ficha de leitura:

Tema: Felicidade.

Área: Ética.

Bibliografia: SAMOS, Epicuro de. Carta a Meneceu. Tradução de Álvaro Lorencini e Enzo Del Carratore. São Paulo: UNESP, 2020.

Autor: Epicuro de Samos (341-270 antes de Cristo).

Gênero literário: carta instrutiva / epístola didática.

Escola: epicurismo.

  Epicuro envia suas saudações a Meneceu

 

1.      Que ninguém hesite em se dedicar à filosofia enquanto jovem, nem se canse de fazê-lo depois de velho, porque ninguém jamais é demasiado jovem ou demasiado velho para alcançar a saúde do espírito. Quem afirma que a hora de dedicar-se à filosofia ainda não chegou, ou que ela já passou, é como se dissesse que ainda não chegou ou que já passou a hora de ser feliz. Desse modo, a filosofia é útil tanto ao jovem quanto ao velho: para quem está envelhecendo sentir-se rejuvenescer através da grata recordação das coisas que já se foram, e para o jovem poder envelhecer sem sentir medo das coisas que estão por vir; é necessário, portanto, cuidar das coisas que trazem a felicidade, já que, estando presente, tudo temos, e, sem ela, tudo fazemos para alcançá-la. Pratica e cultiva então aqueles ensinamentos que sempre te transmiti, na certeza de que eles constituem os elementos fundamentais para uma vida feliz.

2.      Em primeiro lugar, considerando a divindade como um ente imortal e bem-aventurado, como sugere a percepção comum de divindade, não atribuas a ela nada que seja incompatível com a sua imortalidade, nem inadequado à sua bem-aventurança; pensa a respeito dela tudo que for capaz de conservar-lhe felicidade e imortalidade.

3.       Os deuses de fato existem e é evidente o conhecimento que temos deles; já a imagem que deles faz a maioria das pessoas, essa não existe: as pessoas não costumam preservar a noção que têm dos deuses, ímpio não é quem rejeita os em que a maioria crê, mas sim quem atribui aos deuses os falsos juízos dessa maioria. Com efeito, os juízos do povo a respeito dos deuses não se baseiam em noções inatas, mas em opiniões falsas. Daí a crença de que eles causam os maiores malefícios aos maus e os maiores benefícios aos bons.

4.      Irmanados pelas suas próprias virtudes, eles só aceitam a convivência com os seus semelhantes e consideram estranho tudo que seja diferente deles.

5.      Acostuma-te à ideia de que a morte para nós não é nada, visto que todo bem e todo mal residem nas sensações, e a morte é justamente a privação das sensações. A consciência clara de que a morte não significa nada para nós proporciona a fruição da vida efémera, sem querer acrescentar-lhe tempo infinito e eliminando o desejo de imortalidade.

6.      Não existe nada de terrível na vida para quem está perfeitamente convencido de que não há nada de terrível em deixar de viver. É tolo portanto quem diz ter medo da morte, não porque a chegada desta lhe trará sofrimento, mas porque o aflige a própria espera: aquilo que não nos perturba quando presente não deveria afligir-nos enquanto está sendo esperado.

7.      Então, o mais terrível de todos os males, a morte, não significa nada para nós, justamente porque, quando estamos vivos, é a morte que não está presente; ao contrário, quando a morte está presente, nós é que não estamos. A morte, portanto, não é nada, nem para os vivos, nem para os mortos, já que para ela não existe, ao passo que estes não estão mais aqui. E, no entanto, a maioria das pessoas ora foge da morte como se fosse o maior dos males, ora deseja como descanso dos males da vida.

8.      O sábio, porém, nem desdenha viver, nem teme deixar de viver; para ele, viver não é um fardo e não-viver não é um mal.

 

3º passo - Depois de uma leitura panorâmica, devemos identificar os conceitos, palavras-chave, autores e teorias. Podemos assinalá-los no texto e anotar numa folha de rascunho. Os autores e conceitos que são citados, mas, não são apresentados ou devidamente explicados devem ser esclarecidos através da consulta de dicionários e manuais.

 

Epicuro envia suas saudações a Meneceu

 

9.      Que ninguém hesite em se dedicar à filosofia enquanto jovem, nem se canse de fazê-lo depois de velho, porque ninguém jamais é demasiado jovem ou demasiado velho para alcançar a saúde do espírito. Quem afirma que a hora de dedicar-se à filosofia ainda não chegou, ou que ela já passou, é como se dissesse que ainda não chegou ou que já passou a hora de ser feliz. Desse modo, a filosofia é útil tanto ao jovem quanto ao velho: para quem está envelhecendo sentir-se rejuvenescer através da grata recordação das coisas que já se foram, e para o jovem poder envelhecer sem sentir medo das coisas que estão por vir; é necessário, portanto, cuidar das coisas que trazem a felicidade, já que, estando presente, tudo temos, e, sem ela, tudo fazemos para alcançá-la. Pratica e cultiva então aqueles ensinamentos que sempre te transmiti, na certeza de que eles constituem os elementos fundamentais para uma vida feliz.

10.  Em primeiro lugar, considerando a divindade como um ente imortal e bem-aventurado, como sugere a percepção comum de divindade, não atribuas a ela nada que seja incompatível com a sua imortalidade, nem inadequado à sua bem-aventurança; pensa a respeito dela tudo que for capaz de conservar-lhe felicidade e imortalidade.

11.   Os deuses de fato existem e é evidente o conhecimento que temos deles; já a imagem que deles faz a maioria das pessoas, essa não existe: as pessoas não costumam preservar a noção que têm dos deuses, ímpio não é quem rejeita os em que a maioria crê, mas sim quem atribui aos deuses os falsos juízos dessa maioria. Com efeito, os juízos do povo a respeito dos deuses não se baseiam em noções inatas, mas em opiniões falsas. Daí a crença de que eles causam os maiores malefícios aos maus e os maiores benefícios aos bons.

12.  Irmanados pelas suas próprias virtudes, eles só aceitam a convivência com os seus semelhantes e consideram estranho tudo que seja diferente deles.

13.  Acostuma-te à ideia de que a morte para nós não é nada, visto que todo bem e todo mal residem nas sensações, e a morte é justamente a privação das sensações. A consciência clara de que a morte não significa nada para nós proporciona a fruição da vida efémera, sem querer acrescentar-lhe tempo infinito e eliminando o desejo de imortalidade.

14.  Não existe nada de terrível na vida para quem está perfeitamente convencido de que não há nada de terrível em deixar de viver. É tolo portanto quem diz ter medo da morte, não porque a chegada desta lhe trará sofrimento, mas porque o aflige a própria espera: aquilo que não nos perturba quando presente não deveria afligir-nos enquanto está sendo esperado.

15.  Então, o mais terrível de todos os males, a morte, não significa nada para nós, justamente porque, quando estamos vivos, é a morte que não está presente; ao contrário, quando a morte está presente, nós é que não estamos. A morte, portanto, não é nada, nem para os vivos, nem para os mortos, já que para ela não existe, ao passo que estes não estão mais aqui. E, no entanto, a maioria das pessoas ora foge da morte como se fosse o maior dos males, ora deseja como descanso dos males da vida.

16.  O sábio, porém, nem desdenha viver, nem teme deixar de viver; para ele, viver não é um fardo e não-viver não é um mal.

 

4º passo - Agora é o momento de esquematizar o texto para se ter uma noção geral da sua estrutura e temas gerais.

 

a)      Epicuro faz equivaler a atividade filosófica ao tempo de ser feliz. É justamente porque ele entendia que conhecimento ajuda a aprender a viver bem.

b)      Em seguida, ele cita duas condições que ameaçam os homens: os deuses e a morte.

c)      A respeito dos deuses, ele tem uma visão deísta. Os deuses felizes e importais e não se ocupam dos problemas humanos. Portanto, eles não nos fazem males.

d)     A morte é a privação das sensações. Não devemos temê-la. O sentimento de medo da espera da morte é pior do que o próprio fato de morrer.

e)      Conclusão: O sábio não teme viver e nem teme morrer.


3.3. COMENTÁRIO:

A função terapêutica da filosofia

 

Epicuro inicia sua carta a Meneceu discorrendo sobre a função da filosofia. Ela tem um propósito sapiencial e terapêutico em sua dimensão ética. Não existe restrição de idade para se dedicar à filosofia por se tratar de um conhecimento necessário para toda a vida. Em todas as idades, precisamos de sabedoria para viver bem e alcançar a felicidade.

Há dois procedimentos que Epicuro recomenda para viver bem cada idade. Quem está envelhecendo se consola através da grata recordação das coisas que viveu. A memória tem uma função consoladora na biografia do sábio. Ao jovem, ele pode aprender a não sentir medo das coisas futuras. A ocupação mais importante da vida do sábio deve ser com as coisas que se referem à felicidade e a filosofia trata disso.

Em seguida, Epicuro tenta dissipar dois medos que podem atormentar a vida e impedir a felicidade. Eles têm a ver com a vida além da natureza e além do tempo. O primeiro é o medo que os gregos tinham da punição dos deuses, do destino. Embora, injustamente, muitos antigos autores consideravam Epicuro ateu, isso não é verdade. Ele acreditava na existência dos deuses. Porém, faz uma crítica à visão popular sobre os deuses e se posiciona como um politeísta deísta. É uma visão quase única na antiguidade. Ele rejeita a ideia de providência e de interferência dos deuses no mundo. Eles são felizes, imortais e se bastam a si mesmos. Então, não fazem mal aos homens. Um ser plenamente feliz não tem motivação para causar danos aos outros. O conceito de deus de Epicuro é um além do bem e do mal. Os gregos antigos viviam atormentados porque tinham crenças falsas sobre a natureza dos deuses no entender de Epicuro.

Já que não há motivo para temer a deus, como enfrentamos a morte? Ela é o medo mais universal. O bem e o mal residem nas nossas sensações corporais. Se nós tememos sofrimentos, a morte é justamente a privação de todas as sensações. Então, ela não é um mal. Além disso, é um fenômeno que não podemos vivenciá-lo já que ocorre estando nós inconscientes. Morte e homem não se encontram.

A atitude do sábio diante da vida é esta: Ele não despreza a vida e se esforça para vivê-la bem, mas também não teme a morte. Aliás, Epicuro até censura o suicídio. A máxima conclusiva de Epicuro é “viver não é um fardo e não-viver não é um mal.”

 

A - Palavras-chave: filosofia, felicidade, temor aos deuses, medo da morte.

B - Problematização: A filosofia pode ter um efeito terapêutico sobre os grandes medos? Quais os argumentos favoráveis à função terapêutica da felicidade?

Um comentário:

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Bibliografia

ARANHA, M. L. A. & MARTINS, M. H. P. Filosofando: introdução à filosofia. 3ª ed. Rev. atual. São Paulo: Moderna, 2003.

CHAUÍ, Marilena. Introdução à história da Filosofia: Dos pré-socráticos a Aristóteles. São Paulo: Companhia das Letras, 2002.

MONDIN, B. Introdução à Filosofia: problemas, sistemas, autores, obras. 12ª ed. São Paulo: Paulus, 2001