ANTROPOLOGIA
FILOSÓFICA[1]
José
Aristides da Silva Gamito[2]
1.
Introdução
Antropologia
Filosófica procura responder a questão sobre o que é o homem. É uma pergunta que se encontra entre dois
campos o da natureza e o da cultura. As tarefas principais dessa disciplina
filosófica são: a) elaborar um conceito de homem considerando as tradições
filosóficas; b) buscar a unidade do homem diante de suas múltiplas dimensões;
c) elaborar uma sistematização filosófica que responda à pergunta sobre a
definição do homem (HERRERO).
Antropologia
se coloca diante do desafio de o homem ser simultaneamente o sujeito e o objeto
de seu estudo.
Em
síntese, a antropologia filosófica estuda a origem, natureza e lugar do homem
no universo. O primeiro a utilizar o termo antropologia foi o humanista Otto
Casmann na obra Psychologia
Anthropologica sobre o problema do corpo e da alma. O estudo da
antropologia no sentido contemporâneo tem seu início na década de 20.
2.
A
concepção clássica do homem (séc. VI a. C. – séc. VI d. C.)
A
concepção sobre o homem que Vaz (1991) denomina clássica tem seu início nos
séculos VIII e VII na Grécia Antiga e se unirá mais tarde a elementos romanos,
resultando daí a concepção greco-romana.
Nessas
primeiras concepções dois traços fundamentais se destacam: O homem compreendido
como um animal que domina o discurso (zoon
logikon) e como um animal que vive em sociedade (zoon politikon). O domínio
do discurso possibilita ao homem estabelecer normas e entrar em consenso para a
vida em sociedade.
A
gênese dessa visão grega está no período arcaico. Vaz (1991) distingue algumas
linhas que levantam traços culturais dessa antropologia. Os gregos antigos que
dividiam um cosmo entre mundo dos deuses (theoi)
e mundo dos mortais (thanatoi). A
pretensão do ser humano de participar dos atributos divinos é aplacada com o
destino (moira) que contém a possibilidade
da tragédia.
O
homem grego admira a ordem do universo e a toma como referência para a ordem
que deve reinar na polis. O estilo de vida proposto por Platão e Aristóteles é
o da vida contemplativa (bios theoretikós).
Esses traços cosmológicos influirão na necessidade de se ter uma ciência do
agir corretamente, moderadamente, a ética. É preciso conciliar a liberdade
humana com a necessidade cósmica.
Nietzsche
atribui à alma grega a oposição entre apolíneo e o dionisíaco:
O apolíneo reflete o lado luminoso
da visão grega do homem, a presença ordenadora do logos na vida humana, que a
orienta para a claridade do pensar e do agir razoáveis. O dionisíaco traduz o
lado obscuro (ctônico), onde reinam as forças desencadeadas do eros ou do
desejo e da paixão (VAZ, 2004, p. 29).
Em
outras palavras, o dionisíaco representa a embriaguez criativa e a paixão
sensual, a humanidade em plena harmonia com a natureza. Já o apolíneo é a visão
de sonho e tentativa de expressar o sentido das coisas na medida e na moderação,
explicitando-se em figuras equilibradas e límpidas.
Toda
a visão grega arcaica da vida é marcada pela idéia de excelência (areté). O herói guerreiro e civilizador
é valorizado. Posteriormente, essa excelência se encarna no sábio. O tema do
destino perpassa também essa transição entre o período arcaico e o clássico. A
visão do destino como inexorável, que possui a tragédia latente em si, se
transforma no moralismo. No período clássico, ao homem é cobrada
responsabilidade pelo seu destino.
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