1.1.
A
superioridade da razão
Uma das influências que Agostinho recebeu da
tradição filosófica foi o neoplatonismo, mediante as obras de Plotino (As
Enéadas). A primeira forma de conhecimento que trata Agostinho é o
autoconhecimento e é através da fé que o homem desenvolve sua faculdade de
conhecer. A fé se torna condição para o conhecimento.
Nesse
sentido, pode se estabelecer um paralelo com Descartes. Agostinho afirma que
podemos nos equivocar a cerca das coisas que nos rodeiam, mas não sobre a nossa
interioridade. Se eu sou capaz de me enganar, eu existo. Nas palavras de
Agostinho: “não te poderias enganar de modo algum, se não existisses”
(AGOSTINHO,). O fundamento da certeza está na consciência do indivíduo.
Por serem três as realidades: o ser, o
viver e o entender. É verdade que a pedra existe e o animal vive. Contudo, ao
que me parece a pedra não vive. Nem o animal entende. Entretanto, estou
certíssimo de que o ser que entende possui também a existência e a vida. É
porque não hesito em dizer: o ser que possui essas três realidades é melhor do
que aquele que não possui senão uma ou duas delas. (De lib. arb. II, 3).
A teoria
do conhecimento de Agostinho se inicia com o anúncio de três realidades que sã
também o ponto partido da verdade fundamental: a existência..
Na
obra “O Livre-Arbítrio”, Agostinho afirma que a superioridade do homem sobre os
outros animais se dar por causa da razão. Ela constitui seu poder em superar a
ferocidade dos animais. A razão é a verdade mais elevada no homem: “O que
denominamos saber não vem a ser nada mais do que se perceber pela razão”.
Acima da razão está a
verdade que julga e não é julgada. Esse movimento de busca no interior aproxima
o homem cada vez mais de Deus. Portanto, Deus é o fundamento da verdade. Essas
verdades que se encontram no espírito humano não provêm da experiência sensível.
Os sentidos são intérpretes da mente
para conhecer as coisas exteriores. Ao gravar as imagens das experiências
sensíveis na memória é que as comparamos e as juntamos, compreendendo a
realidade. A memória funciona como “documentos das coisas anteriormente
percebidas”, nas palavras de Agostinho.
O
domínio das ideias acontece com a iluminação divina. As ideias são os
arquétipos de toda a existência da mente de Deus e a criação é a realização
desses arquétipos (RODRÍGUEZ, 2015).
1.2. Teoria da Iluminação
Em
contraposição ao ceticismo, Agostinho sustenta que através da dúvida o
pensamento age e o homem se reconhece como ser pensante e não pode negar a
própria existência e nem duvidar da verdade, pois de qualquer forma já se
encontra em contato com a verdade. O
homem é apenas um buscador da verdade, sua mutabilidade e sua imperfeição o impede
de conter a verdade em si. A verdade não pode plenamente revelada ao homem no
tempo. Deus é quem transmite para a inteligência do homem. Na própria
consciência, ele pode encontrar Deus.
A
teoria da iluminação é a afirmação de que o homem não possuindo por si mesmo a
verdade, ele a recebe de Deus como uma luz que ilumina a mente e a permite
aprender.
A Teoria da Iluminação Divina é apresentada por Santo
Agostinho como ação direta de Deus na mente humana, de modo que o homem possa chegar
ao verdadeiro conhecimento, sendo que é essa luz divina que possibilita ao
homem encontrar Deus e alcançar a felicidade (SOUSA, 2009).
Como
Platão na Teoria da Reminiscência, algumas ideias fundamentais não derivam da
realidade sensível. A fonte das ideias não é o mundo sensível, é para Agostinho
o próprio Deus (SKUOLA, 2015).
1.3.
Linguagem
e verdade
No
De Magistro estabelece-se uma relação
entre conhecimento e linguagem. Esta se manifesta incapaz de expressar todo o
saber. O discurso não ensina. E à medida
que vamos confrontando nossas opiniões com as opiniões alheias, e mudamos de
opinião, estamos consultando nossa verdade interior.
A
linguagem por si mesma não é capaz de transmitir conhecimento. Mas é
indispensável ao ensino. O conhecer supõe algo anterior à linguagem. As
palavras são sinais exteriores do conhecimento, a verdade é garantida pelo
mestre interior. As condições do conhecimento não são de ordem lingüística e
sim metafísica. É o conhecimento que confere sentido à linguagem.
Agostinho
considera uma das funções da linguagem ensinar. E ensinar é rememorar e fixar
melhor nossos argumentos. Porém, não é a linguagem que traz o conhecimento, é a
verdade interior. A iluminação provém do mestre interior (ALVES, 2012).
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