Leitura
proposta:
HESSEN,
Johannes. Teoria do Conhecimento.
Texto: A história do conhecimento, PP. 14-15.
A HISTÓRIA DO CONHECIMENTO –
JOHANNES HESSEN
}
“Como
disciplina filosófica independente, não se pode falar de uma teoria do
conhecimento nem na Antiguidade nem na Idade Média. Certamente, encontraremos
numerosas reflexões epistemológicas na filosofia antiga, especialmente em
Platão e em Aristóteles. São, porém, investigações epistemológicas que ainda
estão completamente embutidas em contextos psicológicos e metafísicos.
}
É
só na Idade Moderna que a teoria do conhecimento aparece como disciplina
independente. O filósofo inglês John Locke deve ser considerado seu fundador.
Sua principal obra, An Essay concerning Human Understanding, publicada
em 1690, trata de modo sistemático as questões referentes à origem, à essência
e à certeza do conhecimento humano.”
}
« No livro Nouveaux
essais sur I'entendement
humain,
publicado postumamente em 1765, Leibniz tentou refutar o ponto de vista
epistemológico de Locke. Na Inglaterra, George Berkeley, em sua obra Treatise
concerning the Principles of Human Knowledge (1710), e David Hume, em sua obra principal, Treatise on Human
Nature (1739/40) e em outra de menor dimensão, o Enquiry concerning Human Understanding (1748), continuaram edificando sobre a base dos resultados
obtidos por Locke.
}
Na
filosofia continental, lmmanuel Kant
aparece como o verdadeiro fundador da teoria do conhecimento. Em sua
principal obra epistemológica, a Crítica da razão pura (1781), tentou fornecer
uma fundamentação crítica ao conhecimento das ciências naturais. O método que
usou foi chamado por ele próprio de "método transcendental.
}
Esse
método não investiga a gênese psicológica do conhecimento, mas sua validade
lógica. Não pergunta, à maneira do método psicológico, como surge o
conhecimento, mas sim como é possível o conhecimento, sobre quais fundamentos,
sobre quais pressupostos ele repousa. Em virtude desse método, a filosofia de
Kant também é chamada abreviadamente de transcendentalismo ou, ainda, de
criticismo.
}
Em
Fichte, o sucessor imediato de Kant, a teoria do conhecimento aparece pela primeira
vez intitulada "teoria da ciência". Mas já apresenta aquele amálgama
de teoria do conhecimento e metafísica que ganhará livre curso em Schelling e
Hegel e que também estará inconfundivelmente presente em Schopenhauer e em
Hartmann.
}
Em
contraposição a esses tratamentos metafísicos da teoria do conhecimento, o
neokantismo, surgido na década de 1860, esforça-se por separar nitidamente o
questionamento metafísico do epistemológico. No entanto, o problema
epistemológico foi tão vigorosamente empurrado para o primeiro plano que a
filosofia corria o perigo de reduzir-se à teoria do conhecimento.
}
O
neokantismo desenvolveu a teoria kantiana do conhecimento numa direção muito
bem determinada. A unilateralidade de questionamento que isso provocou fez logo
surgirem numerosas correntes epistemológicas contrárias. Vem daí estarmos hoje
ante uma enorme quantidade de direcionamentos epistemológicos, de que os mais
importantes serão apresentados a seguir em conexão sistemática.” (HESSEN, 2000,
pp. 14-15)
II
– CONCEITUAÇÃO DE TEORIA DO CONHECIMENTO
A Teoria
do Conhecimento é uma investigação sobre a origem, extensão e limite do
conhecimento. Outros nomes são tidos como equivalentes a esta disciplina como
epistemologia, gnoseologia. Segundo
Carvalho, a epistemologia e a teoria do conhecimento têm finalidades
diferentes:
Por estar diretamente ligada aos
problemas da ciência e do conhecimento, às vezes a epistemologia foi confundida
com a teoria do conhecimento. Entretanto devemos evitar este equívoco, pois,
enquanto a teoria do conhecimento sempre fez parte da filosofia, ao longo de
sua história, procurando tratar do problema do conhecimento humano como um
todo, o termo epistemologia só foi utilizado, no final do século XIX,
inicialmente por alguns membros do “Círculo de Viena”, que usaram o termo para
designar os estudos especificamente voltados para problemas das ciências
empíricas (CARVALHO, p. 14).
Porém,
estas diferentes acepções não estão bem convencionadas. Abbagnano diz que as
diferenças possuem mais razões linguísticas:
Em italiano, o termo mais usado é
gnoseologia. Em alemão, o termo Gnoséologie, cunhado pelo
wolffiano Baumgarten, teve pouco sucesso, ao passo que o termo Erkenntnistheorie,
empregado pelo kantiano Reinhold (Versuch einer neuen Theorie des
menschlichen Vorstellungsvermögens, 1789) foi comumente aceito. Em inglês,
o termo Epistemology foi introduzido por J. F. Ferrier (Institutes of
Metaphysics, 1854) e é o único empregado comumente; Gnoseology é bem
raro. Em francês, emprega-se comumente Gnoséologie e, mais raramente, Épistemologie.
Todos esses nomes têm o mesmo significado... (ABBAGNANO, p. 183).
Em síntese, a Teoria do
conhecimento tem por objetivo buscar a origem, a natureza, o valor e os
limites da faculdade de conhecer. (JAPIASSU).
III
- O QUE É CONHECIMENTO
Em tese, conhecimento é uma técnica
para verificar que tipo é um objeto. Ou seja, um procedimento para descrever um
objeto, calculá-lo ou prevê-lo. A técnica refere-se tanto à utilização dos
órgãos dos sentidos ou de instrumentos que possibilitem ampliar a habilidade
deles. As técnicas de verificação têm alcances variados, ora o conhecimento tem
eficácia máxima, ora tem eficácia mínima ou nula (ABBAGNANO).
A definição clássica de conhecimento
foi desenvolvida por Sócrates, e aparece em diferentes diálogos de Platão, como
o Teeteto, o Mênon, a República e o Timeu. Segundo
a qual conhecimento seria uma opinião verdadeira justificada. No Teeteto, “a
opinião verdadeira acompanhada de razão é conhecimento, e, desprovida de razão,
a opinião está fora da conhecimento”. No Mênon, Sócrates afirma que “o
conhecimento se distingue da opinião certa por seu encadeamento racional”.
O primeiro elemento desta definição
clássica de conhecimento é a opinião, a literatura anglofônica, prefere o termo
‘crença’. Se tomarmos alguns exemplos nem sempre crença e conhecimento são
identificáveis. Já a verdade segundo
Platão e Aristóteles é afirmar que aquilo que é, é, e o que não é, não é.
Leitura
proposta:
ABBAGNANO,
Nicola. Dicionário de Filosofia.
Verbete: Conhecimento, p. 174 -183.
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