PANORAMA DA FILOSOFIA NO BRASIL
Introdução
Thiago Ferreira dos Santos
no artigo intitulado “Panorama histórico da filosofia no Brasil: da chegada dos
jesuítas ao lugar da filosofia na atualidade” traça um panorama histórico do
pensamento filosófico no Brasil, dividido em três períodos principais: o
Colonial, o Imperial e o Republicano. Cada um desses períodos apresenta
características e representantes distintos que refletem o movimento histórico e
as circunstâncias do país.
a)
Brasil
Colonial (Século XVI até a segunda metade do Século XVIII):
- v A
filosofia foi inicialmente implantada pelos jesuítas a partir do século XVI.
- v Eles
iniciaram a construção de um pensamento filosófico e teológico seguindo modelos
europeus.
- v Os
jesuítas estavam alinhados com as propostas do Concílio de Trento, buscando a
expansão do cristianismo e a defesa da ortodoxia católica.
- v O
ensino era de cunho tomista e se fundamentava na segunda escolástica
portuguesa.
- v O
método de ensino seguia rigidamente a Ratio
Studiorum, uma coletânea que guiava as atividades acadêmicas da Companhia
de Jesus, baseada em Tomás de Aquino e Aristóteles.
- v Os
séculos XVI e XVII seguiram basicamente os ensinamentos escolásticos.
- v A
filosofia passou a ser ensinada em nível superior no chamado Colégio do Rio.
- v Representantes
dessa fase inicial incluem Manoel da Nóbrega, Gomes Carneiro, Nuno Marques
Pereira e Souza Nunes, defensores do “Saber de Salvação”, que priorizava o
divino em detrimento do corpóreo e material.
- v A
partir da segunda metade do século XVIII, surge o Empirismo Mitigado em oposição
ao tomismo jesuítico.
- v Essa
corrente buscava reduzir o conhecimento filosófico válido a um empirismo
cientificista, influenciado pelo iluminismo europeu.
- v O
principal representante foi Sebastião José de Carvalho e Melo, o Marquês de
Pombal, cuja proposta influenciou a organização das primeiras instituições de
ensino superior no Brasil, de cunho cientificista-pombaliano.
- v Posteriormente,
Silvestre Pinheiro Ferreira propôs uma superação do Empirismo Mitigado com uma
ideia de Empirismo influenciada por Locke e um Aristóteles reinterpretado
empiricamente. Ele se moveu contra a escolástica e desenvolveu ideias em termos
humanos, filosóficos e políticos.
b) Brasil Imperial (Século XIX)
- v Após
a independência em relação a Portugal, o pensamento filosófico enfrentou
problemas relacionados à liberdade e consciência.
- v Nesse
período, surge o Ecletismo, que tentava responder às questões de consciência e
liberdade por meio de uma aproximação do espiritualismo e do empirismo.
- v Representantes
principais do Ecletismo foram Eduardo Ferreira França (fundamentações
filosóficas para a liberdade política) e Gonçalves de Magalhães (soluções mais
espiritualistas, oposição corpo/alma).
- v Com
o “surto de ideias novas”, surgem novas discussões que reagem ao Ecletismo.
- v O
Positivismo de Comte passa a vigorar de forma importante, influenciando a
cultura brasileira em termos de visão de mundo.
- v As
propostas cientificistas do Marquês de Pombal no período colonial impulsionaram
a aceitação das ideias positivistas, que se manifestaram de formas diversas
(ortodoxa, política, militar).
- v Representantes
do Positivismo incluem Miguel Lemos, Teixeira Mendes, Luís Pereira Barreto,
Alberto Sales, Pedro Lessa, Paulo Egydio, Ivan Lins, Júlio de Castilhos e
Benjamin Constant Botelho de Magalhães.
- v Em
oposição ao positivismo, surge a Escola de Recife, um movimento importante que
trouxe questões sociológicas, culturais, folclóricas, jurídicas para o
pensamento filosófico brasileiro.
- v Nascida
na Faculdade de Direito de Recife, teve como líder Tobias Barreto e foi representada
também por Silvio Romero.
- v Esses
pensadores, herdeiros de um kantismo, trabalharam a filosofia num plano
epistemológico, introduzindo discussões de cunho transcendental.
- v A
Escola de Recife trouxe uma nova concepção de cultura, vista como algo que diz
respeito unicamente ao ser humano, transcendendo as condições naturais.
c) Brasil República (Século XX até a
atualidade)
- v No
início do século XX, o pensamento filosófico ainda estava muito influenciado
pelas correntes positivistas.
- v No
entanto, o movimento contrário iniciado pela Escola de Recife se cristalizou no
cenário nacional.
- v Uma
das correntes mais importantes que surge como crítica ao positivismo é o
Culturalismo, considerado herdeiro da proposta da Escola de Recife.
- v O
Culturalismo traz à tona questões de cunho antropológico e social.
- v Seu
principal representante é Farias Brito, considerado um dos grandes filósofos
brasileiros e herdeiro das ideias de Tobias Barreto. Outros nomes incluem Washington
Vita e Miguel Reale.
- v Outra
corrente filosófica que surge no período republicano é a Teologia da
Libertação.
- v Busca
uma união da filosofia com a teologia, produzindo um diálogo teológico com o
marxismo.
- v Propõe
um ideal de libertação para os povos que sofrem desigualdades, refletindo essa
problemática. Seu expoente é Leonardo Boff.
- v Além
disso, elementos existencialistas também são possíveis de se propor no
pensamento filosófico do século XX.
Conclusões
É importante notar que a
ideia de uma filosofia brasileira e sua originalidade são temas problemáticos e
exigem reflexão. Alguns críticos, como Roberto Gomes em sua “Crítica da Razão
Tupiniquim”, questionam a originalidade do projeto filosófico no país, vendo-o
como uma reprodução de modelos estrangeiros alheios às questões nacionais. No
entanto, outros, como Jorge Jaime e Júlio Cabrera, argumentam que, mesmo com
influências externas, pensadores brasileiros abordaram e apresentaram reflexões
próprias que tiveram e têm forte influência na construção do pensamento
brasileiro. A filosofia no Brasil se desenvolveu em conexão com a tradição
filosófica universal, mas suas questões foram problematizadas em relação aos
contextos locais e circunstanciais.
REFERÊNCIA:
SANTOS, Thiago Ferreira dos. Panorama Histórico da Filosofia
no Brasil: da chegada dos jesuítas ao lugar da filosofia na atualidade. Seara Filosófica, n. 12, Inverno, p. 126-140, 2016.
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