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quarta-feira, 28 de maio de 2025

Filosofia brasileira

 PANORAMA DA FILOSOFIA NO BRASIL

 

Introdução

 

Thiago Ferreira dos Santos no artigo intitulado “Panorama histórico da filosofia no Brasil: da chegada dos jesuítas ao lugar da filosofia na atualidade” traça um panorama histórico do pensamento filosófico no Brasil, dividido em três períodos principais: o Colonial, o Imperial e o Republicano. Cada um desses períodos apresenta características e representantes distintos que refletem o movimento histórico e as circunstâncias do país.

 

a)   Brasil Colonial (Século XVI até a segunda metade do Século XVIII):

 

  • v  A filosofia foi inicialmente implantada pelos jesuítas a partir do século XVI.
  • v  Eles iniciaram a construção de um pensamento filosófico e teológico seguindo modelos europeus.
  • v  Os jesuítas estavam alinhados com as propostas do Concílio de Trento, buscando a expansão do cristianismo e a defesa da ortodoxia católica.
  • v  O ensino era de cunho tomista e se fundamentava na segunda escolástica portuguesa.
  • v  O método de ensino seguia rigidamente a Ratio Studiorum, uma coletânea que guiava as atividades acadêmicas da Companhia de Jesus, baseada em Tomás de Aquino e Aristóteles.
  • v  Os séculos XVI e XVII seguiram basicamente os ensinamentos escolásticos.
  • v  A filosofia passou a ser ensinada em nível superior no chamado Colégio do Rio.
  • v  Representantes dessa fase inicial incluem Manoel da Nóbrega, Gomes Carneiro, Nuno Marques Pereira e Souza Nunes, defensores do “Saber de Salvação”, que priorizava o divino em detrimento do corpóreo e material.
  • v  A partir da segunda metade do século XVIII, surge o Empirismo Mitigado em oposição ao tomismo jesuítico.
  • v  Essa corrente buscava reduzir o conhecimento filosófico válido a um empirismo cientificista, influenciado pelo iluminismo europeu.
  • v  O principal representante foi Sebastião José de Carvalho e Melo, o Marquês de Pombal, cuja proposta influenciou a organização das primeiras instituições de ensino superior no Brasil, de cunho cientificista-pombaliano.
  • v  Posteriormente, Silvestre Pinheiro Ferreira propôs uma superação do Empirismo Mitigado com uma ideia de Empirismo influenciada por Locke e um Aristóteles reinterpretado empiricamente. Ele se moveu contra a escolástica e desenvolveu ideias em termos humanos, filosóficos e políticos.

 

b)   Brasil Imperial (Século XIX)

 

  • v  Após a independência em relação a Portugal, o pensamento filosófico enfrentou problemas relacionados à liberdade e consciência.
  • v  Nesse período, surge o Ecletismo, que tentava responder às questões de consciência e liberdade por meio de uma aproximação do espiritualismo e do empirismo.
  • v  Representantes principais do Ecletismo foram Eduardo Ferreira França (fundamentações filosóficas para a liberdade política) e Gonçalves de Magalhães (soluções mais espiritualistas, oposição corpo/alma).
  • v  Com o “surto de ideias novas”, surgem novas discussões que reagem ao Ecletismo.
  • v  O Positivismo de Comte passa a vigorar de forma importante, influenciando a cultura brasileira em termos de visão de mundo.
  • v  As propostas cientificistas do Marquês de Pombal no período colonial impulsionaram a aceitação das ideias positivistas, que se manifestaram de formas diversas (ortodoxa, política, militar).
  • v  Representantes do Positivismo incluem Miguel Lemos, Teixeira Mendes, Luís Pereira Barreto, Alberto Sales, Pedro Lessa, Paulo Egydio, Ivan Lins, Júlio de Castilhos e Benjamin Constant Botelho de Magalhães.
  • v  Em oposição ao positivismo, surge a Escola de Recife, um movimento importante que trouxe questões sociológicas, culturais, folclóricas, jurídicas para o pensamento filosófico brasileiro.
  • v  Nascida na Faculdade de Direito de Recife, teve como líder Tobias Barreto e foi representada também por Silvio Romero.
  • v  Esses pensadores, herdeiros de um kantismo, trabalharam a filosofia num plano epistemológico, introduzindo discussões de cunho transcendental.
  • v  A Escola de Recife trouxe uma nova concepção de cultura, vista como algo que diz respeito unicamente ao ser humano, transcendendo as condições naturais.

 

c)    Brasil República (Século XX até a atualidade)

 

  • v  No início do século XX, o pensamento filosófico ainda estava muito influenciado pelas correntes positivistas.
  • v  No entanto, o movimento contrário iniciado pela Escola de Recife se cristalizou no cenário nacional.
  • v  Uma das correntes mais importantes que surge como crítica ao positivismo é o Culturalismo, considerado herdeiro da proposta da Escola de Recife.
  • v  O Culturalismo traz à tona questões de cunho antropológico e social.
  • v  Seu principal representante é Farias Brito, considerado um dos grandes filósofos brasileiros e herdeiro das ideias de Tobias Barreto. Outros nomes incluem Washington Vita e Miguel Reale.
  • v  Outra corrente filosófica que surge no período republicano é a Teologia da Libertação.
  • v  Busca uma união da filosofia com a teologia, produzindo um diálogo teológico com o marxismo.
  • v  Propõe um ideal de libertação para os povos que sofrem desigualdades, refletindo essa problemática. Seu expoente é Leonardo Boff.
  • v  Além disso, elementos existencialistas também são possíveis de se propor no pensamento filosófico do século XX.

Conclusões

 

É importante notar que a ideia de uma filosofia brasileira e sua originalidade são temas problemáticos e exigem reflexão. Alguns críticos, como Roberto Gomes em sua “Crítica da Razão Tupiniquim”, questionam a originalidade do projeto filosófico no país, vendo-o como uma reprodução de modelos estrangeiros alheios às questões nacionais. No entanto, outros, como Jorge Jaime e Júlio Cabrera, argumentam que, mesmo com influências externas, pensadores brasileiros abordaram e apresentaram reflexões próprias que tiveram e têm forte influência na construção do pensamento brasileiro. A filosofia no Brasil se desenvolveu em conexão com a tradição filosófica universal, mas suas questões foram problematizadas em relação aos contextos locais e circunstanciais.

 

REFERÊNCIA:

 

SANTOS, Thiago Ferreira dos. Panorama Histórico da Filosofia no Brasil: da chegada dos jesuítas ao lugar da filosofia na atualidade. Seara Filosófica, n. 12, Inverno, p. 126-140, 2016.

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Bibliografia

ARANHA, M. L. A. & MARTINS, M. H. P. Filosofando: introdução à filosofia. 3ª ed. Rev. atual. São Paulo: Moderna, 2003.

CHAUÍ, Marilena. Introdução à história da Filosofia: Dos pré-socráticos a Aristóteles. São Paulo: Companhia das Letras, 2002.

MONDIN, B. Introdução à Filosofia: problemas, sistemas, autores, obras. 12ª ed. São Paulo: Paulus, 2001